terça-feira, 24 de abril de 2012

A agenda de Bento XVI
Calendário das celebrações presididas pelo Pontífice de abril a junho de 2012
CIDADE DO VATICANO, terça – feira, 24 de abril de 2012 (ZENIT.org) - Continua a grande obra de Bento XVI, depois de numerosos compromissos assumidos durante o período da Quaresma e da Páscoa.

Algumas celebrações importantes comprometerão o Santo Padre do final de abril até junho. Entre elas: a Missa que será realizada dia 29 de abril, IV Domingo de Páscoa, 9:00, na Basílica do Vaticano, durante a qual o Papa presidirá a ordenação sacerdotal de alguns diáconos da Diocese de Roma.
Concelebrará: o Cardeal Vigário Geral de Sua Santidade para a Diocese de Roma, Agostino Vallini, Suas Excelências os Bispos Auxiliares, os Superiores dos Seminários relacionados e Párocos do Ordenados.
O primeiro compromisso de maio será a visita pastoral do pontífice à Diocese de Arezzo -La Verna- Sansepolcro, domingo, 13 de maio.
No VI Domingo de Páscoa, Bento XVI encontrará toda a Igreja de Arezzo, Cortona e biturgense na praça da Catedral de Arezzo, onde, às 10, vai presidir a Celebração eucarística e a oração do Regina Coeli.
Na parte da tarde está previsto a visita ao Santuário franciscano de La Verna e da Catedral de Sansepolcro que celebra o milênio da sua fundação.
Duas semanas depois, 27 de maio, domingo de Pentecostes, o Papa presidirá às 9h30, a Santa Missa na Capela Papal da Basílica Vaticana, enquanto da sexta-feira 1 de junho a domingo 3, apresentará o Encontro Mundial VII das Famílias, em Milão.
Ainda no mês de junho, quinta-feira 7, dias após a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, o Santo Padre celebrará a Eucaristia, às 19, na Basílica de São João de Latrão, e participará da procissão em Santa Maria Maggiore, onde concederá a Benção Eucarística.
Último compromisso, finalmente, sexta-feira,  29 de junho,  Solenidade dos Santos Pedro e Paulo Apóstolos, a missa do Papa na Basílica Vaticana, será as 9 horas, e a imposição do Pálio aos novos Metropolitas.

sábado, 21 de abril de 2012

Jesus e um bom peixe assado - Lucas 24,36-49 (Edmilson Schinelo)

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Algumas correntes dos cristianismos originários espiritualizaram muito cedo a pessoa e a proposta de Jesus. Para esses grupos, as chagas do Crucificado desapareceram e passando a cultuar uma religião que negava a encarnação. Muitos afirmavam que Jesus morreu na cruz aparentemente, seu corpo era apenas um corpo aparente (docetismo). Tal negação teórica tinha uma implicação prática: para ser uma boa pessoa cristã, bastava buscar conhecer (gnose) de verdade esse espírito e a ele chegar pelo esforço intelectual/espiritual.
Por essa razão, as comunidades joaninas, já no convívio com correntes de influência gnóstica, são enfáticas em afirmar: "o Verbo se fez carne e acampou no nosso meio" (João 1,14). Se, por um lado, a fala de Tomé é expressão de sua dúvida, por outro, é sinal de que acredita em um Deus encarnado e sofredor: "Se eu não vir nas suas mãos os sinais dos cravos, e ali não puser o meu dedo, e não puser a minha mão no seu lado, de modo algum acreditarei" (João 20,25).
No texto de Lucas 24,36-49, Jesus chega desejando a paz, fazendo uso de um cumprimento que todo judeu gosta de ouvir: shalom! (24,36). O susto é grande e o grupo pensa que é um espírito. "Um espírito não tem carne e osso", lembra Jesus,  "vede minhas mãos e meus pés, sou eu" (24,39). Não há como negar, afirmam as comunidades lucanas: nosso Deus não é só um espírito, o Cruficidado/Ressuscitado permanece entre nós! Erra quem prega um Deus desencarnado. Não entende a proposta quem imagina que é suficiente louvar um espírito, muitas vezes até distante, outras vezes apenas doce e virtual.
O Ressuscitado é carne, é gente de verdade e continua com mãos, pés e o lado marcados por ferimentos. Cabe a nós tratar desses ferimentos, como fez o samaritano em outro texto narrado exclusivamente por Lucas (10,29-37). Cabe a nós não fugir e testemunhar por nossos atos: o Ressuscitado é o mesmo Crucificado a contar conosco também hoje, nos pobres e necessitados, os crucificados deste mundo. A fé em Jesus é algo mais exigente: é preciso continuar reconhecendo sua pessoa sofredora, encarnada nas pessoas sofredoras de ontem e de hoje.
Primeiro comer para depois "abrir a mente"
Depois de saborear um bom peixe assado, Jesus convida o seu grupo a ler a Bíblia: "era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. E abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras" (Lucas 24,44-45). Como tinha feito no caminho de Emaús (24,27), Jesus retoma a Bíblia: a Lei (a Torah, o Pentateuco), os Profetas (os Nebiin, livros históricos e proféticos) e os Salmos (que representam os Ketubin, os outros Escritos).
Nesse sentido, a experiência com Jesus ressuscitado é uma luz que ilumina todas as Escrituras. Dá um novo sabor a textos antigos. Talvez o inverso tenha sido mais decisivo: a memória de tradições de Israel ajudou as comunidades a interpretar a Cruz à luz da profecia e da esperança na vinda do libertador. A releitura de textos como Oséias 6,2 ("Depois de dois dias nos fará reviver; no terceiro dia nos levantará e nós viveremos em sua presença") e da figura do servo em Isaías, especialmente do cântico de Isaías 52,13-53,12, ajuda o grupo que seguiu Jesus pelo caminho a reconhecer nele a realização dessa esperança popular. À luz destes textos, as comunidades passaram a compreender a Cruz, de modo que, em vez de sinal de morte, passou a ser sinal de ressurreição e de vida. É a vitória da vida sobre a morte. Nasceu uma nova esperança e, com entusiasmo e movidas pelo dinamismo do Espírito, testemunharam a Boa Nova da justiça do Reino a todas as nações.
Entretanto, parece que mais uma vez Jesus quer nos apresentar um método de evangelização: a mesa da partilha e o ato de matar a fome vêm em primeiro lugar em nossos trabalhos pastorais e sociais. Nenhuma doutrina pode ser usada como camisa de força para a Palavra, uma vez que esta não pode ser algemada por aquela (cf. 2Timóteo 2,9). Muito menos, a Bíblia e as normas das diferentes igrejas podem ser usadas para doutrinar a vida, mas para iluminá-la. Despertar a consciência é algo que não se faz com a barriga vazia! Partilhar o peixe (e o pão, e a dignidade) é algo que se faz como prioridade.
Ressurreição acontece ao redor da mesa
O tema da mesa (comensalidade) é um dos mais caros ao evangelho de Lucas. Jesus come com publicanos (Lc 5,29-32); à mesa, na casa de um fariseu, é ungido pela mulher pecadora; (7,36-50; 11,37-54); também na casa de um fariseu desmascara a hipocrisia e o legalismo de quem o acolhia (10,38-42); janta na casa de Zaqueu e o ensina a repartir; faz-se ele mesmo pão repartido (22,14-2); e se dá a conhecer, em Emaús, ao redor da mesa (Lc 24,13-35). Ao todo, por doze vezes Jesus se senta à mesa no evangelho de Lucas. E ainda convida a quem permanecer fiel a sentar-se na mesa de seu Reino (22,28-30).
No evangelho de hoje, ele pede peixe e come com os seus (22,42). O peixe se tornou um forte símbolo do cristianismo primitivo. Era e ainda é comida de gente simples, que busca sobreviver como consegue, à margem de lagos, rios e mares. Ao mesmo tempo, um pouco de sal e algumas brasas são suficientes para que o banquete esteja pronto e apetitoso. A mesa é o chão da pesca, é a lida do dia-a-dia, a marmita do boia-fria, mas com o direito de estar quentinha, na brasa! E o Mestre come com eles, mais uma vez, um bom peixe assado!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Orações

Dá-nos, Senhor aquela Paz - Pedro Casaldáliga

Dá-nos, Senhor aquela Paz
inquieta que denuncia a Paz dos cemitérios e a Paz dos lucros fartos.
Dá-nos a Paz que luta pela Paz!
A Paz que nos sacode com a urgência do Reino.
A Paz que nos invade, com o vento do Espírito,
a rotina e o medo, o sossego das praias e a oração
de refúgio.
A Paz das armas rotas na derrota das armas.
A Paz da fome de Justiça,
a paz da Liberdade conquistada,
a Paz que se faz "nossa" sem cercas nem fronteiras,
Que tanto é "Shalom" como "Salam", perdão, retorno, abraço...
Dá-nos a tua Paz, essa Paz marginal que soletra
Em Belém e agoniza na Cruz e triunfa na Páscoa.
Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta,
que não nos deixa em paz!

domingo, 15 de abril de 2012

A paz esteja com vocês

A paz esteja com vocês (Jo 20,19-31) - Mesters, Lopes e Orofino

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A MISSÃO DA COMUNIDADE
"A paz esteja com vocês!"
João 20,19-31
  
  
Texto extraído do livro "Raio-X da Vida - Círculos Bíblicos do Evangelho de João". Coleção a Palavra na Vida 147/148. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.  CEBI Publicações. Mais informações vendas@cebi.org.br.
  
OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA
Vamos meditar sobre a aparição de Jesus aos discípulos e a missão que eles receberam. Eles estavam reunidos com as portas fechadas porque tinham medo dos judeus. De repente, Jesus se coloca no meio deles e diz: "A paz esteja com vocês!" Depois de mostrar as mãos e o lado, ele disse novamente: "A paz esteja com vocês! Como o Pai me enviou, eu envio vocês!" Em seguida, lhes dá o Espírito para que possam perdoar e reconciliar. A paz! Reconciliar e construir a paz! Esta é a missão que recebem. Hoje, o que mais faz falta é a paz: refazer os pedaços da vida, reconstruir as relações quebradas entre as pessoas. Relações quebradas por causa da injustiça e por tantos outros motivos. Jesus insiste na paz. Repete várias vezes! As pessoas que lutam pela paz são declaradas felizes e são chamadas filhos e filhas de Deus (Mt 5,9).

SITUANDO
Na conclusão do capítulo 20 (Jo 20,30-31), o autor diz que Jesus fez "muitos outros sinais que não estão neste livro. Estes, porém, foram escritos (a saber os sete sinais relatados nos capítulos 2 a 11) para que vocês possam crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, acreditando, ter a vida no nome dele" (Jo 20,31). Isto significa que, inicialmente, esta conclusão era o final do Livro dos Sinais. Mais tarde, foi acrescentado o Livro da Glorificação que descreve a hora de Jesus, a sua morte e ressurreição. Assim, o que era o final do Livro dos Sinais passou a ser conclusão também do Livro da Glorificação.

COMENTANDO  
João 20,19-20: A experiência da ressurreição
Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim! Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: "A paz esteja com vocês!" Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é crucificado! O Jesus que está conosco na comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com a vida da gente. Mas é o mesmo Jesus que viveu na terra, e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça. É nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater que Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós.
João 20,21: O envio: "Como o Pai me enviou, eu envio vocês"
É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: "A paz esteja com vocês!" Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz significa muito mais do que só a ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, convivendo felizes e em paz. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito
Jesus soprou e disse: "Recebei o Espírito Santo". É só mesmo com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Páscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento.
João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados
O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: "Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverdes serão retidos!" Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). No evangelho de Mateus é dado também a Pedro (Mt 16,19). Aqui se percebe a enorme responsabilidade da comunidade. O texto deixa claro que uma comunidade sem perdão nem reconciliação já não é comunidade cristã.
João 20,24-25: A dúvida de Tomé
Tomé, um dos doze, não estava presente. E ele não crê no testemunho dos outros. Tomé é exigente: quer colocar o dedo nas feridas da mão e do pé de Jesus. Quer ver para poder crer! Não é que ele queria ver milagre para poder crer. Não! Tomé queria ver os sinais das mãos e no lado. Ele não crê num Jesus glorioso, desligado do Jesus humano que sofreu na cruz. Sinal de que havia pessoas que não aceitavam a encarnação (2Jo 7; 1Jo 4,2-3; 2,22). A dúvida de Tomé também deixa transparecer como era difícil crer na ressurreição.
João 20, 26-29: Felizes os que não viram e creram
O texto começa dizendo: "Uma semana depois". Tomé foi capaz de sustentar sua opinião durante uma semana inteira. Cabeçudo mesmo! Graças a Deus, para nós! Novamente, durante a reunião da comunidade, eles têm uma experiência profunda da presença de Jesus ressuscitado no meio deles. E novamente recebem a missão de paz: "A paz esteja com vocês!" O que chama a atenção é a bondade de Jesus. Ele não critica nem xinga a incredulidade de Tomé, mas aceita o desafio e diz: "Tomé, venha cá colocar seu dedo nas feridas!"  Jesus confirma a convicção de Tomé, que era a convicção de fé das comunidades do Discípulo Amado, a saber: o ressuscitado glorioso é o crucificado torturado! É neste Cristo que Tomé acredita, e nós também! Como ele digamos: "Meu Senhor e meu Deus!" Esta entrega de Tomé é a atitude ideal da fé. E Jesus completa com a mensagem final: "Você acreditou porque viu! Felizes os que não viram e no entanto creram!" Com esta frase, Jesus declara felizes a todos nós que estamos nesta condição: sem termos visto acreditamos que o Jesus que está no nosso meio é o mesmo que morreu crucificado!
João 20,30-31: Objetivo do evangelho: levar a crer para ter vida
Assim termina o Evangelho, lembrando que a preocupação maior de João é a Vida. É o que Jesus diz: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10).
  
ALARGANDO
Shalom: a construção da paz  
O primeiro encontro entre Jesus ressuscitado e seus discípulos é marcado pela saudação feita por ele: "A paz esteja com vocês!" Por duas vezes Jesus deseja a paz a seus amigos. Esta saudação é muito comum entre os judeus e na Bíblia. Ela aparece quando surge um mensageiro da parte de Deus (Jz 6,23; Tb 12,17). Logo em seguida, Jesus os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Paz, Missão e Espírito" Os três estão juntos. Afinal, construir a paz é a missão dos discípulos e das discípulas de Jesus (Mt 10,13; Lc 10,5). O Reino de Deus, pregado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz (Lc 1,79; 2,14). O Evangelho de João mostra que a paz, para ser verdadeira, deve ser a paz trazida por Jesus (Jo 14,27). Uma paz diferente da paz construída pelo império romano.
Paz na Bíblia (em hebraico é shalom) é uma palavra muito rica, significando uma série de atitudes e desejos do ser humano. Paz significa integridade da pessoa diante de Deus e dos outros. Significa também uma vida plena, feliz, abundante (Jo 10,10). A paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um "Deus da paz" (Jz 6,24; Rm 15,33). Por isso mesmo, a proposta da paz trazida por Jesus também é sinal de "espada" (Mt 10,34), ou seja, as perseguições para as comunidades. O próprio Jesus faz este alerta sobre as tribulações promovidas pelo império tentando matar a paz de Deus (Jo 16,33). É preciso confiar, lutar, trabalhar, perseverar no Espírito para que um dia a paz de Deus triunfe. Neste dia "amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam" (Sl 85,11). Então, como ensina Paulo, o "Reino será justiça, paz e alegria como fruto do Espírito Santo" (Rm 14,17) e "Deus será tudo em todos" (1Cor 15,28).
  

sábado, 7 de abril de 2012

Que o Cristo Ressuscitado seja a nossa força e a nossa alegria.


“Ó Pai, nós vos agradecemos pela Ressurreição, de Jesus, vosso Filho. Somos a nova humanidade nascida com Cristo Ressuscitado, o homem novo vencedor da morte. A exemplo de vosso Filho, tornai-nos pessoas novas para sermos testemunhas da sua Ressurreição."


Desejamos a todas(os) uma Feliz Páscoa.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

VIA-SACRA PRESIDIDA PELO SANTO PADRE


I ESTAÇÃO 
Jesus condenado à morte
Do Evangelho segundo João 18, 38b-40
Dito isto, [Pilatos] foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo n’Ele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador.
Pilatos não encontra particulares culpas que possa atribuir a Jesus, cede à pressão dos acusadores e, assim, o Nazareno é condenado à morte.
Temos a sensação de ouvir-Vos:
«Sim, fui condenado à morte;
muitas pessoas, que parecia que Me amavam
e compreendiam, deram ouvidos às mentiras
e acusaram-Me.
Não compreenderam o que Eu dizia.
Atraiçoado, sujeitaram-Me a julgamento e fui condenado.
À morte… Crucificado, a morte mais ignominiosa».
Não poucas das nossas famílias sofrem pela traição do cônjuge, a pessoa mais  amada. Onde foi parar a alegria da intimidade, do viver em uníssono? Onde está o sentir-se um só? Onde está aquele «para sempre» com que se nos tinha declarado?
Fixar-Vos, Jesus, o Atraiçoado,
e viver convosco o momento em que desaba o amor
e a amizade que se tinham criado no nosso casal,
sentir no coração as feridas da confiança atraiçoada,
da familiaridade perdida, da segurança sumida.
Fixar-Vos, Jesus, precisamente agora
que sou julgado por quem não recorda o vínculo
que nos unia no dom total de nós mesmos.
Só Vós, Jesus, podeis compreender-me, podeis dar-me coragem,
podeis dizer-me palavras verdadeiras, embora me custe a entendê-las.
Podeis dar-me aquela força
que permita de, por minha vez, não julgar
de não sucumbir, por amor daquelas criaturas
que me esperam em casa
e para as quais agora sou o único amparo.

II ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a Cruz.
Do Evangelho segundo João 19, 16-17
Então [Pilatos] entregou-O para ser crucificado. E eles tomaram conta de Jesus. Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota.
Pilatos entrega Jesus nas mãos dos chefes dos sacerdotes e dos guardas. Os soldados colocam-Lhe aos ombros um manto escarlate e, na cabeça, uma coroa feita de ramos com espinhos; durante a noite zombam d’Ele, maltratam-No e flagelam-No. Em seguida, de manhã, carregam-No com um lenho pesado, a cruz onde são pregados os salteadores, para que todos vejam o destino que espera os malfeitores. Muitos dos seguidores d’Ele põem-se em fuga.
O sucedido há 2000 anos repete-se na história da Igreja e da humanidade. Hoje também. É o corpo de Cristo, é a Igreja que é atingida e ferida de novo.
Ao ver-Vos, Jesus, neste estado,
sangrando, sozinho, abandonado, escarnecido,
perguntamo-nos:
«Mas aquela gente que tanto tínheis amado,
beneficiado e iluminado,
aqueles homens, aquelas mulheres, não somos porventura também nós, hoje?
Também nós nos escondemos com medo de ser implicados,
esquecendo que somos os vossos seguidores».
Mas a coisa mais grave, Jesus,
é que também eu contribuí para o vosso sofrimento.
Também nós, esposos, e as nossas famílias.
Também nós contribuímos
para Vos carregar com um peso desumano.
Todas as vezes que não nos amámos,
quando demos a culpa um ao outro,
quando não nos perdoámos,
quando não recomeçámos a estimar-nos.
E nós, ao contrário,
continuamos a dar ouvidos à nossa soberba,
quisemos ter sempre razão, humilhámos quem vive junto de nós,
incluindo quem uniu a sua própria vida à nossa.
Deixamos de nos recordar que Vós mesmo, Jesus, nos dissestes:
«Tudo o que fizestes a um destes m
III ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez 
Do Evangelho segundo Mateus 11, 28-30
«Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve».
Jesus cai. As feridas, o peso da cruz, a estrada a subir, em mau estado.  E os empurrões da multidão. Mas não foi só isto que O reduziu a este estado. Talvez seja o peso da tragédia que tem início na sua vida. Já não se consegue ver Deus em Jesus, homem que Se mostra tão frágil, que tropeça e cai.
Jesus, lá, naquela estrada,
no meio de toda aquela gente que grita e murmura,
depois de terdes caído por terra,
levantais-Vos e procurais continuar a subida.
No fundo do coração sabeis que este sofrimento tem um sentido,
dais-Vos conta de ter carregado o peso
das nossas muitas faltas, traições e culpas.
Jesus, a vossa queda faz-nos sofrer
porque compreendemos que a causa somos nós;
ou talvez a nossa fragilidade,
não só física, mas de todo o nosso ser.
Quereríamos não cair jamais;
mas depois basta pouco, um obstáculo,
uma tentação ou um incidente,
deixamo-nos levar e caímos.
Prometêramos seguir Jesus, respeitar e cuidar das pessoas que Ele colocara ao nosso lado. Sim, na realidade, nós amamo-las ou pelo menos assim no-lo parece. Se viessem a faltar-nos, sofreríamos não pouco. Mas depois, nas situações concretas de cada dia, cedemos...
Quantas quedas nas nossas famílias!
Quantas separações, quantas traições!
E, depois, os divórcios, os abortos, os abandonos!
Jesus, ajudai-nos a compreender o que é o amor,
ensinai-nos a pedir perdão!
eus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes». Dissestes assim mesmo: «A Mim».

IV ESTAÇÃO
Jesus encontra sua Mãe
Do Evangelho segundo João 19, 25
Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena.
Na subida para o Calvário, Jesus entrevê sua mãe. Os seus olhares cruzam-se. Compreendem-se. Maria sabe quem é seu Filho. Sabe donde vem. Sabe qual é a sua missão. Maria sabe que é sua mãe; mas sabe também que é sua filha. Vê-O sofrer, por todos os homens... de ontem, de hoje e de amanhã. E sofre também Ela.
Certamente, Jesus,
sofreis por fazer sofrer assim a vossa mãe.
Mas deveis envolvê-La
na vossa divina e tremenda aventura.
É o plano de Deus,
para a salvação de toda a humanidade.
Para todos os homens e todas as mulheres deste mundo, mas de modo particular para nós, famílias, o encontro de Jesus com a mãe, lá no caminho do Calvário, é um acontecimento vivíssimo, sempre actual. Jesus privou-Se da mãe, para que nós – cada um de nós, incluindo nós esposos – tivéssemos uma mãe sempre disponível e presente. Às vezes, infelizmente, esquecemo-nos disso. Mas, quando reentramos em nós, damo-nos conta de que, na nossa vida de família, recorremos a Ela inúmeras vezes. Quanta assistência nos deu nos momentos difíceis! Quantas vezes Lhe recomendámos os nossos filhos, Lhe suplicámos que interviesse em favor da sua saúde física e, mais ainda, para ter uma protecção moral.
E quantas vezes Maria nos atendeu, sentimo-La perto de nós, confortando-nos com o seu amor materno.
Na via-sacra de cada família, Maria é o modelo do silêncio que, mesmo na dor mais pungente, gera a vida nova.
V ESTAÇÃO
Jesus é ajudado por Simão Cireneu a levar a Cruz
 Do Evangelho segundo Lucas 23, 26
Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus.
Talvez Simão de Cirene nos represente a todos, quando inesperadamente nos sobrevém uma dificuldade, uma prova, uma doença, um peso imprevisto, uma cruz por vezes pesada. Porquê isto? Porquê precisamente a mim? Porquê neste momento? O Senhor chama-nos a segui-Lo, não sabemos onde nem como.
O melhor a fazer, Jesus,
é vir atrás de Vós, ser dóceis àquilo que nos pedis.
Muitas famílias podem-no confirmar
por experiência directa:
não serve rebelar-se, convém dizer-Vos sim,
porque Vós sois o Senhor do Céu e da Terra.
Mas não é só por isto
que podemos e queremos dizer-Vos sim.
Vós amais-nos com amor infinito.
Mais do que o pai, a mãe, os irmãos,
a esposa, o marido, os filhos.
Amais-nos com um amor que vê longe,
um amor que, para além de tudo,
mesmo da nossa miséria,
nos quer salvos, felizes, convosco, para sempre.
Também em família, nos momentos mais difíceis, quando se deve tomar uma decisão importante, se a paz habitar no coração, se se estiver atento para ver aquilo que Deus quer de nós, somos iluminados por uma luz que nos ajuda a discernir e a levar a nossa cruz.
O Cireneu recorda-nos ainda os inúmeros rostos de pessoas que se solidarizaram connosco nos momentos em que uma cruz pesada se abateu sobre nós ou sobre a nossa família. Faz-nos pensar em tantos voluntários que, em muitas partes do mundo, se dedicam generosamente a confortar e a ajudar quantos se encontram no sofrimento e na adversidade. Ensina-nos a deixarmo-nos humildemente ajudar, quando temos necessidade, e também a sermos cireneus para os o
VI ESTAÇÃO
A Verónica limpa o rosto de Jesus 
Da Segunda Carta do apóstolo São Paulo aos Coríntios 4, 6
O Deus que disse: «Das trevas brilhe a luz», foi quem brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo.
A Verónica, uma das mulheres que segue Jesus, que intui quem Ele é, que O ama e por isso sofre ao vê-Lo sofrer. Agora entrevê de perto o seu rosto, aquele rosto que tantas vezes falara à sua alma. Vê-o turvado, ensanguentado e  desfigurado, embora sempre manso e humilde.
Não resiste. Quer aliviar os seus sofrimentos. Pega num pano, e tenta enxugar sangue e suor daquele rosto.
Às vezes, na nossa vida, tivemos ocasião de enxugar lágrimas e suor das pessoas que sofrem. Talvez tenhamos assistido um doente terminal num corredor do hospital, ajudado um imigrante ou um desempregado, ouvido um encarcerado. E, procurando animá-lo, talvez tenhamos limpo o seu rosto, olhando-o com compaixão.
E todavia poucas vezes nos recordamos
de que, em cada irmão nosso que passa necessidade,
Vos escondeis Vós, Filho de Deus.
Como seria diversa a nossa vida
se nos recordássemos disso!
Pouco a pouco iremos tomando consciência da dignidade
de cada homem que vive sobre a terra.
Cada pessoa, linda ou feia, dotada ou não,
ainda nos primeiros momentos no ventre da mãe
ou então já idosa, sempre Vos representa, Jesus.
E não só... Cada irmão sois Vós.
Contemplando-Vos, reduzido a quase nada lá no Calvário,
compreenderemos com a Verónica
que em cada criatura humana pod
VII ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez 
Da Primeira Carta do apóstolo São Pedro 2, 24
Subindo ao madeiro, Ele levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fostes curados.
Pela segunda vez, enquanto avança pelo caminho estreito do Calvário, Jesus cai. Intuímos a sua fraqueza física, depois duma noite terrível, depois das torturas que Lhe infligiram. A fazê-Lo cair, talvez não sejam apenas as torturas, o exaurimento, o peso da cruz sobre os ombros. Sobre Jesus grava um peso não mensurável, algo de íntimo e profundo que, a cada passo, se vai fazendo sentir mais nitidamente.
Vemo-Vos como um pobre homem qualquer,
que errou na vida e agora tem de pagar.
E parece que não tendes mais força física ou moral
para enfrentar o novo dia... e caís.
Oh como nos reconhecemos em Vós, Jesus,
mesmo nesta nova queda por exaurimento!
Mas, eis que Vos levantais novamente; quereis conseguir...
Para nos dar, a todos nós,
a coragem de nos levantarmos de novo.
A nossa fraqueza existe,
mas o vosso amor é maior do que as nossas carências,
sempre pode acolher-nos e compreender-nos.
Os nossos pecados, cuja carga assumistes,
esmagam-Vos, mas a vossa misericórdia
é infinitamente maior do que as nossas misérias.
Sim, Jesus! Graças a Vós, levantamo-nos de novo.
Errámos.
Deixamo-nos levar pelas tentações do mundo,
quem sabe por incandescências de satisfação,
para ouvir dizer que alguém ainda nos deseja,
que alguém diz que nos quer bem, ou até que nos ama.
Às vezes sentimos dificuldade até para manter
o compromisso assumido da nossa fidelidade de esposos.
Já não temos o vigor e a decisão de outrora.
Tudo é repetitivo, cada acto parece pesado,
dá-nos vontade de fugir.
Mas procuramos levantar-nos, Jesus,
sem ceder à maior de todas as tentações:
a de não crer que o vosso amor pode tudo.


VIII ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
que choram por Ele
 Do Evangelho segundo Lucas 23, 27-28
Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos».
No meio da multidão que O segue, há um grupo de mulheres de Jerusalém: conhecem-No. Vendo-O naquelas condições, misturam-se com a multidão e sobem para o Calvário. Choram.
Jesus vê-as, entende o seu sentimento de compaixão. E, mesmo num momento trágico como aquele, quer deixar uma palavra que ultrapasse a simples compaixão. Deseja que nelas, que em nós não haja apenas comiseração mas conversão do coração: aquela que reconhece ter errado, que pede perdão, que recomeça uma vida nova.
Jesus, quantas vezes por cansaço ou por inconsciência,
por egoísmo ou por medo,
fechamos os olhos e não queremos enfrentar a realidade!
Sobretudo nós mesmos não nos envolvemos,
não nos comprometemos participando profunda e activamente
na vida e nas necessidades dos nossos irmãos, vizinhos e distantes.
Continuamos a viver comodamente,
deploramos o mal e quem o faz,
mas não mudamos a nossa vida
e não nos empenhamos pessoalmente para que as coisas mudem
e o mal seja debelado e triunfe a justiça.
Muitas vezes as situações não melhoram, porque não nos empenhámos em fazê-las mudar. Retiramo-nos sem fazer mal a ninguém, mas também sem fazer o bem que poderíamos e deveríamos fazer. E talvez alguém esteja a sofrer por isso, pela nossa evasão.
Jesus, que estas vossas palavras nos acordem,
nos dêem um pouco daquela força
que move as testemunhas do Evangelho,
muitas vezes também mártires, pais ou mães ou filhos,
que, com o seu sangue unido ao Vosso,
abriram e continuam a abrir também hoje
o caminho ao bem, no mu
IX ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez 
Do Evangelho segundo Lucas 22, 28-30a
«Vós sois os que permaneceram sempre junto de Mim nas minhas provações, e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe dele a meu favor, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino».
A subida da estrada é breve, mas a sua fraqueza é extrema. Jesus está esgotado não só fisicamente mas também no espírito. Sente sobre Si o ódio dos chefes, dos sacerdotes, da multidão; parecem querer descarregar sobre Ele a raiva reprimida pelas opressões passadas e presentes. Como se procurassem uma desforra, fazendo valer o seu poder sobre Jesus.
E caís… caís, Jesus, pela terceira vez.
Pareceis sucumbir.
Mas eis que, com um esforço extremo, Vos levantais
e retomais o caminho terrível para o Gólgota.
Certamente muitos irmãos nossos em todo o mundo
estão a sofrer provações tremendas porque Vos seguem, Jesus.
Estão a subir convosco para o Calvário
e convosco estão inclusive caindo
sob as perseguições que, desde há dois mil anos,
desferram sobre o vosso Corpo que é a Igreja.
Queremos, com estes nossos irmãos no coração, oferecer a nossa vida, as nossas fraquezas, a nossa miséria, os nossos pequenos e grandes sofrimentos diários. Muitas vezes vivemos anestesiados pelo bem-estar, sem nos comprometermos com todas as forças para nos levantarmos e levantar a humanidade. Mas podemos erguer-nos, porque Jesus encontrou a força de Se levantar e retomar o caminho.
Também as nossas famílias são parte deste tecido invertebrado, encontram-se ligadas a uma vida de bem-estar que se torna o objectivo da própria vida. Os nossos filhos crescem: procuramos habituá-los à sobriedade, ao sacrifício, à renúncia. Procuramos dar-lhes uma vida social satisfatória nos ambientes desportivos, associativos e recreativos, mas sem que estas actividades sejam apenas um modo de preencher o dia e ter tudo aquilo que se deseja.
Por isso, Jesus,
precisamos de escutar as vossas palavras,
que queremos testemunhar:
«Felizes os pobres, felizes os mansos, felizes os construtores de paz,
felizes aqueles que sofrem por amor da justiça…».

X ESTAÇÃO
Jesus é despojado das suas vestes 
Do Evangelho segundo João 19, 23
Os soldados, depois (…) pegaram na roupa de Jesus e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras.
Jesus está nas mãos dos soldados. Como todo o condenado, é despojado das vestes, para O humilhar, reduzi-Lo a nada. A indiferença, o desprezo e a negligência pela dignidade da pessoa humana juntam-se com a avidez, a cobiça e os interesses privados: «Pegaram na roupa de Jesus».
A vossa túnica, Jesus, era sem costuras.
Isto exprime o cuidado que tinham por Vós
a vossa mãe e as pessoas que Vos seguiam.
Agora encontrais-Vos sem roupa, Jesus,
e sentis o incómodo de quem está à mercê de gente
que não tem respeito pela pessoa humana.
Quantas pessoas sofreram, e sofrem, por causa desta falta de respeito pela pessoa humana, pela sua intimidade. Às vezes talvez nós tenhamos também faltado ao respeito devido à dignidade pessoal de quem está ao nosso lado, «apoderando-nos» de quem nos está vizinho: filho ou marido ou esposa ou parente, conhecido ou desconhecido. Em nome da nossa suposta liberdade, ferimos a dos outros: quanta negligência, quanto descuido nos comportamentos e na maneira de nos apresentarmos um ao outro!
Jesus, que Se deixa expor deste modo aos olhos do mundo de então e aos olhos da humanidade de sempre, lembra-nos a grandeza da pessoa humana, a  dignidade que Deus concedeu a cada homem, a cada mulher e que nada e ninguém deveria violar, porque são plasmados à imagem de Deus. A nós está confiada a tarefa de promover o respeito da pessoa humana e do seu corpo. Em particular a nós, esposos, cabe a tarefa de conjugar estas duas realidades fundamentais e indivisíveis: a dignidade e o dom total de si mesmo.

XI ESTAÇÃO
Jesus é pregado na Cruz 
Do Evangelho segundo João19, 18-19
Lá O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus».
Chegados ao lugar chamado «Calvário», os soldados crucificam Jesus. Pilatos manda escrever: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus», para zombar d’Ele e humilhar os judeus. Mas esta inscrição, embora sem o pretender, atesta uma realidade: a realeza de Jesus, Rei de um Reino que não tem fronteiras de espaço nem de tempo.
Mal podemos imaginar o sofrimento de Jesus durante a crucifixão, cruenta e dolorosíssima. Entra-se no mistério: Porque é que Deus, que Se fez homem por nosso amor, Se deixa pregar num madeiro e erguer da terra entre atrozes espasmos físicos e espirituais?
Por amor. Por amor. É a lei do amor que leva a dar a própria vida pelo bem do outro. Confirmam-no aquelas mães que aguentaram a própria morte para dar à luz o seu filho. Ou aqueles pais que perderam um filho na guerra ou em actos de terrorismo, e decidem não se vingar.
Jesus, no Calvário, personificais a todos nós,
todos os homens de ontem, hoje e amanhã.
Na cruz, ensinastes-nos a amar.
Agora começamos a compreender o segredo daquela alegria perfeita
que proclamáveis aos discípulos na Última Ceia.
Tivestes de descer do Céu, fazer-Vos menino,
depois adulto e por fim sofrer no Calvário
para nos dizer, com a vossa vida, o que é o verdadeiro amor.
Contemplando-Vos lá no alto da cruz, também nós enquanto família, esposos, pais e filhos, estamos a aprender a amar-nos e a amar, a revigorar entre nós aquele acolhimento que é dar-se a si mesmo e saber-se acolhido com gratidão; que sabe sofrer, que sabe transformar o sofrimento em amor.

XII ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz 
Do Evangelho segundo Mateus 27, 45-46
Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três hora da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?».
Jesus está na cruz. Horas de angústia, horas terríveis, horas de dores físicas desumanas. «Tenho sede»: diz Jesus. E levam-Lhe à boca uma esponja ensopada em vinagre.
Um grito ergue-se inesperado: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?». Blasfémia? O condenado grita o Salmo? Como aceitar um Deus que grita, que Se lamenta, que não sabe, não compreende? O Filho de Deus feito homem que Se sente morrer abandonado por seu Pai?
Jesus, até este ponto Vos fizestes um de nós,
um connosco, à excepção do pecado!
Vós, Filho de Deus feito homem,
identificastes-Vos connosco até ao ponto de experimentar,
Vós que sois o Santo, a nossa condição de pecadores,
a separação de Deus, o inferno daqueles que estão sem Deus.
Vós experimentastes a escuridão para nos dar a luz.
Vivestes a separação para nos dar a unidade.
Aceitastes a dor para nos deixar o Amor.
Provastes a exclusão, abandonado e suspenso
entre Céu e Terra, para nos acolher na vida de Deus.
Um mistério nos envolve
revivendo cada passo da vossa Paixão.
Jesus, não considerais ciosamente como um tesouro
a vossa igualdade com Deus,
mas fazeis-Vos pobre de tudo para nos enriquecer.
«Nas vossas mãos, entrego o meu espírito».
Como conseguistes, Jesus, naquele abismo de desolação,
confiar-Vos ao Amor do Pai,
abandonar-Vos a Ele, morrer n’Ele?
Somente olhando para Vós, somente convosco
podemos enfrentar as tragédias, os sofrimentos dos inocentes,
as humilhações, os ultrajes, a morte.
Jesus vive a sua morte como dom por mim, por nós, pela nossa família, por cada pessoa, por cada família, por cada povo, pela humanid
XIII ESTAÇÃO
Jesus é descido da Cruz
e entregue a sua Mãe
 
Do Evangelho segundo João19, 38
Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo.
Maria vê morrer seu Filho, Filho de Deus e também d’Ela. Sabe que é inocente, mas carregou sobre Si o peso das nossas misérias. A Mãe oferece o Filho, o Filho oferece a Mãe. A João, a nós.
Jesus e Maria, eis um família que, no Calvário, vive e sofre a separação suprema. A morte divide-os, ou pelo menos parece dividi-los, uma mãe e um filho com um vínculo simultaneamente humano e divino inconcebível. Por amor, o oferecem. Abandonam-se ambos à Vontade de Deus.
Na voragem que se abriu no coração de Maria, entra outro filho, que representa a humanidade inteira. E o amor de Maria por cada um de nós é o prolongamento do amor que Ela teve por Jesus. Sim, porque, nos discípulos, verá o rosto d’Ele. E viverá para eles, para sustentá-los, ajudá-los, encorajá-los, levá-los a reconhecer o Amor de Deus, para que, na sua liberdade, se voltem para o Pai.
Que dizem a mim, a nós, à nossa família esta Mãe e este Filho no Calvário? Cada um pode apenas deter-se, atónito, diante de tal cena. Intui que esta Mãe, este Filho nos estão a conceder um dom único, irrepetível. De facto, n’Eles, encontramos a capacidade de dilatar o nosso coração e abrir o nosso horizonte à dimensão universal.
Lá, no Calvário,
junto de Vós, Jesus, morto por nós,
as nossas famílias acolhem o dom de Deus:
o dom de um amor
que pode alargar os braços até ao infinito.

XIV ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro

Do Evangelho segundo João 19, 41-42
No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.
Um profundo silêncio envolve o Calvário. No seu Evangelho, João atesta que o Calvário se encontra num jardim, onde existe um sepulcro ainda não usado. E é lá precisamente que os discípulos depõem o seu corpo.
Aquele Jesus, que aos poucos reconheceram como Deus que Se fez homem, está lá, cadáver. Na solidão desconhecida, sentem-se perdidos, não sabem que fazer, nem como comportar-se. Nada mais lhes resta que consolar-se reciprocamente, encorajar-se um ao outro, permanecer juntos. Mas é precisamente então que matura nos discípulos o momento da fé, da recordação daquilo que Jesus disse e fez quando estava no meio deles, e que antes só em parte tinham compreendido.
Lá começam a ser Igreja, à espera da Ressurreição e da efusão do Espírito. Com eles, está a mãe de Jesus, Maria, que o Filho entregara a João. Reúnem-se todos com Ela, à volta d’Ela. À espera. À espera que o Senhor Se manifeste.
Sabemos que aquele corpo, três dias depois, ressuscitou. Assim Jesus vive para sempre e nos acompanha, Ele pessoalmente, ao longo da nossa viagem terrena, entre alegrias e tribulações.
Jesus, fazei que nos amemos mutuamente.
Para Vos termos de novo no meio de nós,
cada dia, como Vós mesmo prometestes:
«Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,
Eu estou no meio deles».

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Solte Barrabás! Condene Jesus!

Solte Barrabás! Condene Jesus! Mesters e Lopes

 
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NO PALÁCIO DO GOVERNADOR ROMANO
"SOLTE BARRABÁS! CONDENE JESUS!"
Marcos 15,1-20

Texto extraído do livro "Caminhando com Jesus - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos". Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes  - Coleção a Palavra na Vida 184/185
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ABRIR OS OLHOS PARA VER
Jesus é levado ao Palácio de Pilatos. Contraste estranho! Jesus, um operário camponês do interior da Galiléia que só pensava em servir aos outros, frente a Pilatos,um político romano que só pensava em fazer carreira e que pouco se importava com a sorte do povo judeu. Para ver-se livre do caso incômodo, Pilatos manipula as leis e propõe soltar um preso, conforme um costume da época! Ele esperava que o povo fosse pedir a libertação de Jesus! Mas o povo, manipulado pelos líderes, gritou: "Solte Barrabás! Condene Jesus!" O mesmo acontece hoje. A propaganda dos meios de comunicação consegue manipular os fatos de tal maneira que faz aparecer como defesa dos fracos e da paz aquilo que, na realidade, não passa de terrorismo de Estado, e vice-versa.

SITUANDO
A narrativa da paixão segue um critério geográfico. Marcos leva a gente pelos diferentes lugares por onde Jesus passou na sua última viagem: Betânia (Mc 14,3-9), sala da Última Ceia (Mc 14,10-31), Horto das Oliveiras (Mc 14,32-52), palácio do sumo sacerdote (Mc 14,53-72). E agora chegamos ao palácio de Pilatos (Mc 15,1-20). Esta maneira de contar os fatos ajuda a gente a guardá-los melhor na memória.
Nos anos 70, época em que Marcos escreveu, era ainda o mesmo Império Romano que estava perseguindo os cristãos. Lendo e meditando a condenação de Jesus, eles como que se olhavam num espelho e se dispunham a completar, como dizia Paulo, na própria carne o que faltava na paixão de Cristo, para assim, desde já, experimentar algo da força da sua ressurreição que vence a morte.

COMENTANDO
1. Marcos 15,1: Jesus é levado perante o poder romano
O processo segue o seu rumo. Conforme as leis da época, o sinédrio podia condenar alguém à morte, mas não tinha o direito de executar a sentença. Precisava da licença do poder romano. Por isso, as autoridades dos judeus decidiram levar Jesus até Pilatos, a fim de conseguir a sua condenação.
2. Marcos 15,2-5: O interrogatório diante do tribunal romano
Diante do tribunal dos judeus, Jesus tinha sido condenado por dois motivos religiosos: por ter dito que era o messias e por ter falado contra o Templo (Mc 14,58.62). Aqui, diante do tribunal romano, o motivo é outro. Eles apresentam Jesus como um messias anti-romano que pretendia ser Rei dos judeus! É um motivo político, mais fácil para se conseguir a condenação de Jesus. O poder romano era muito sensível a qualquer tipo de rebelião popular. Pilatos pergunta: "Você é o rei dos judeus?" Jesus responde: "É você que está dizendo!" Jesus não assume nem nega. É como se dissesse: "É o que se diz por aí!" Pois Jesus não era rei no sentido em que o entendiam Pilatos e os judeus. Jesus é um rei diferente. Ele reina servindo!
Em seguida, Jesus se cala e não fala mais nada, nem mesmo para se defender. Pilatos estranha. Ele não entende o silêncio, mas o leitor entende: o silêncio revela que Jesus é o Messias Servo de que falava o profeta Isaías: "Não abre a boca diante dos que o acusam" (Is 53,7). Revela também a liberdade de Jesus e o seu total desacordo com a manipulação da verdade. Revela a sua vitória sobre a morte.
3. Marcos 15,6-10: Pilatos manipula a lei em seu favor
Incomodado, Pilatos procura uma saída. Percebeu que tinham entregado Jesus por inveja e raiva. Naquela época, havia um costume, uma espécie de lei não escrita, de soltar um preso por ocasião da Páscoa. Pilatos manipula este costume em seu favor e propõe uma alternativa: Barrabás ou Jesus. "Barrabás estava preso junto com os rebeldes que tinham cometido um assassinato na revolta". Pilatos esperava que fossem pedir a libertação de Jesus. Enganou-se!
4. Marcos 15,11-15: Os chefes dos sacerdotes são mais espertos que Pilatos
Os chefes dos sacerdotes, por sua vez, manipulam o povo presente ao ato e conseguem que todos gritem: "Solte Barrabás! Cricifique Jesus!" Pilatos foi fraco. Não soube resistir, deu a sentença final e Jesus foi condenado. Como entender que os sumos sacerdotes tenham conseguido manipular o povo contra Jesus? Não convém esquecer que Jesus era da Galiléia. Tinha estado poucas vezes em Jerusalém. O povo da cidade eram empregados do Templo. Milhares de operários ganhavam lá o seu salário. O Templo era o seu ganha-pão. Jesus tinha falado contra o Templo, assim diziam, e tinha expulsado os vendedores. Por isso, era relativamente fácil manipular a opinião pública contra Jesus.
5. Marcos 15,16-20: A reação dos soldados
Depois de condenado, Jesus é esbofeteado, ridicularizado e cuspido no rosto. Aqui, novamente, aparece o Messias Servo, anunciado por Isaías, que  foi preso, cuspido no rosto e teve a barba arrancada: "Ofereci as costas aos que me feriam e as faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam" (Is 50,6).  

ALARGANDO
O poder romano na terra de Jesus
Este texto descreve o confronto de Jesus com o poder romano. No ano 63 antes de Cristo, os romanos tinham invadido toda a Palestina, que compreendia Galiléia no norte, Samaria no centro e Judéia no sul. Inicialmente, os romanos foram bem acolhidos pelos judeus. Mas, logo mostraram sua verdadeira face oprimindo e explorando o povo através de tributos, impostos, taxas, dízimos e outros roubos legalizados. Por isso, de 57 a 37 A.C., em apenas 20 anos, só na Galiléia, estouraram seis revoltas dos camponeses contra a dominação romana. O povo ia atrás de qualquer um que prometia libertá-lo do peso dos romanos. As revoltas foram duramente reprimidas.
Quem ajuda os romanos na repressão ao povo revoltado, foi um tal de Herodes, que, como pagamento pelos seus esforços, recebeu dos romanos o título de rei sobre toda a Palestina e, de 37 a 4 A.C., governou sobre Galiléia, Samaria e Judéia. Para agradar aos romanos, ele promovia a assim chamada Paz Romana. Esta paz trouxe certa estabilidade econômica para o Império e para o próprio Herodes, mas para o povo dominado da Palestina não era paz, e sim repressão brutal. Jesus nasceu no final do governo deste Herodes. Herodes, chamado o Grande, é aquele que matou as crianças de Belém (Mt 2,16).
OBS: Um frade chamado Dionísio Pequeno, do século VI, calculou a data do nascimento de Jesus. Ele errou por uma pequena margem de 5 ou 6 anos. Jesus nasceu 5 ou 6 anos antes da data calculada pelo frade.
Depois da morte de Herodes, Arquelau, seu filho, assumiu o governo sobre a Judéia. O irmão dele, Herodes Antipas, recebeu o governo sobre a Galiléia. Arquelau era um homem cruel e incompetente. Já na sua tomada de posse, no dia da Páscoa, reprimiu uma reivindicação popular e matou 3 mil peregrinos na praça do templo em Jerusalém. A matança fez explodir a revolta do povo, que, duramente reprimida, provocou uma forte repressão romana. O governo de Arquelau sobre a Judéia foi muito violento. Por isso, José e Maria, depois da fuga no Egito, não quiseram voltar para Belém na Judéia e resolveram ir morar em Nazaré na Galiléia, junto com o menino Jesus (Mt 2,22).
No ano 6 depois de Cristo, - Jesus tinha em torno de 10 anos - Arquelau foi deposto pelos romanos, que estavam insatisfeitos com o mau rendimento do governo dele. Para terem um controle melhor da situação, transformaram a Judéia numa província romana, cujo governador ou procurador era nomeado diretamente pela autoridade central do Império, com sede em Roma. Para poder reorganizar a administração e atualizar o pagamento do tributo, decretaram um recenseamento, o que provocou forte reação popular, inspirada pelo Zelo pela Lei. O Zelo levava o povo a boicotar o censo e a não pagar o tributo. Era uma nova forma de resistir contra o império, uma espécie de desobediência civil. Neste período, Jesus crescia em sabedoria e idade diante de Deus e dos homens, lá em Nazaré.
Assim, de 6 a 44 depois de Cristo, a Judéia era governada por procuradores, representantes diretos do poder romano. A maior parte dos procuradores romanos eram funcionários que não gostavam dos judeus. A forte repressão e o desprezo deles pelo povo judeu fizeram crescer o ódio anti-romano. Um deles, o senhor Pôncio Pilatos, governou de 26 a 36 d.C. Foi ele que, a pedido da elite dos judeus, sancionou com o seu poder a sentença de morte contra Jesus.
A residência dos procuradores ficava na cidade de Cesaréia, no litoral. Somente quando havia alguma ameaça de manifestação popular, por exemplo, na festa de Páscoa, eles se transferiam para Jerusalém para poder controlar melhor a situação e reprimir qualquer tentativa de revolta. É que, por ocasião da festa anual de Páscoa, aumentava no povo a expectativa messiânica e  milhares de romeiros se concentravam ao redor do Templo. Por isso, nos dias em que Jesus foi preso, Pilatos se encontrava em Jerusalém. Foi diante dele que Jesus compareceu e por ele foi condenado à morte de Cruz.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Prova de Amor maior não há que doar a vida pelo irmão!

 

Prova de Amor maior não há que doar a vida pelo irmão - Mesters, Lopes e Orofino.

 
Prova de Amor maior não há que doar a vida pelo irmão!
Lavar os pés uns dos outros
João 13,1-17
Extraído do Livro Raio-X da Vida - Círculos  Bíblicos do Evangelho de João. Autoria de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.
Mais informações pelo endereço vendas@cebi.org.br
OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA

Somos convidados a meditar sobre a última ceia de Jesus com os seus amigos. Durante a ceia, Jesus se levanta para lavar os pés dos seus discípulos. Um gesto que era próprio dos empregados. Pedro não entende o gesto e não quer que Jesus lave seus pés. Ele não aceita este serviço da parte de Jesus. Acha que ia contra a dignidade de Jesus lavar os pés dos seus discípulos. Ele não entende que prova de amor maior não há do que doar a vida pelo irmão. A verdadeira prática religiosa é o serviço amoroso aos pobres, aos irmãos e irmãs.

SITUANDO
O Evangelho de João tem uma dinâmica que envolve os leitores e as leitoras. No primeiro livro, o Livro dos Sinais (1,19 a 11,54), vimos a revelação progressiva que Jesus fazia de si e do Pai. Pouco a pouco, a gente ficou sabendo quem é Jesus e qual a missão que recebeu do Pai. Paralelamente a esta revelação, apareciam a aceitação por parte do povo e a resistência por parte das autoridades religiosas. No fim, o balanço foi o seguinte: O grupo fiel dos discípulos e das discípulas, mesmo sem entender tudo, aceitou Jesus, acreditou nele e se comprometeu com ele. O outro grupo dos judeus resistiu e acabou rompendo com Jesus, querendo matá-lo.
O segundo livro, o Livro da Glorificação, que estamos iniciando neste círculo, tem uma outra dinâmica. Na primeira parte (Jo 13 a 17), Jesus se reúne com o grupo fiel  na últma ceia. Na segunda parte (Jo 18 e 19), o outro grupo toma as providências para executar o plano de matar Jesus. Na tarceira parte (Jo 20 e 21), Jesus ressuscitado reencontra a comunidade e a envia em missão, a mesma que ele recebeu do Pai.


COMENTANDO
João 13,1: A passagem, a Páscoa de JesusFinalmente, chegou a hora de Jesus fazer a passagem definitiva deste mundo para o Pai. Esta passagem através da morte e ressurreição é motivada pelo amor aos amigos: "Tendo amado os seus, amou-os até o fim!" É o êxodo, a páscoa de Jesus, que vai abrir a passagem para todos nós, de volta para o Pai.
João 13,2-5: O lava-pés - dois contrastesChama a atenção a maneira contrastante como João apresenta a cena do lava-pés. Ele diz que Jesus e os discípulos se encontram à mesa numa refeição. Para os judeus, a comunhão de mesa era um momento de muita intimidade, onde só participavam os maiores amigos. Mas aqui, Judas, que já tinha decidido entregá-lo, está presente e participa. O amor de Jesus é maior. Ele aceita Judas na mesa. Este é o primeiro contraste. Há um outro. Jesus veio do Pai e volta para o Pai. Mesmo sendo de condição divina (JO 14,10-11; Fl 2,6), ele assume a atitude de empregado e de escravo. Coloca um avental e começa a lavar os pés dos discípulos. Começa a realizar a profecia do Servo de Deus (Is 42,1-9). É a imagem do Deus servidor que contrasta com a imagem do Deus todo-poderoso.
João 13,6-11: Reação de PedroPedro reage. Não quer aceitar que Jesus lhe lave os pés. Jesus diz que, se Pedro não aceitar que lhe lave os pés, não vai poder ter parte com ele. O que significa isto? É que Pedro tinha dificuldade em aceitar Jesus como o Messias Servo que sofre. Pedro queria um Messias-Rei que fosse forte e dominador. Nos outros evangelhos, Pedro recebe a crítica de Jesus: "Vai embora, Satanás!" (Mc 8,33). Ele tem que mudar de ideia e aceitar Jesus do jeito que Jesus é, e não um Jesus de acordo com o seu próprio gosto.
João 13,12-17: Bem-aventurança da práticaDepois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vira o avental, recoloca o manto, senta novamente na cabeceira da mesa e começa a comentar o gesto. Ele pergunta: "Vocês entenderam o que eu fiz?" Parece que não tinham entendido, começando por Pedro. E continua: "Se eu, sendo mestre e senhor, lavei os pés de vocês, vocês também devem lavar os pés uns dos outros". Em outras palavras, quem quer ser o maior deve ser o menor e o servidor de todos. Aqui, nesta prática humilde do serviço, está a raiz da verdadeira felicidade: "Se vocês compreenderem isto e o praticarem, serão felizes!" Diz a Primeira Carta de João: "Filhinhos, não amemos com palavras nem a língua, mas com ações e em verdade! (1Jo 3,18).


ALARGANDO
A Última Ceia e o Lava-Pés no Evangelho de João
Mateus, Marcos e Lucas descrevem como Jesus instituiu a Eucaristia durante a última ceia. João descreve a última ceia, mas não descreve a instituição da eucaristia. Será que esqueceu ou achou que não era importante? É que João tem a sua maneira de descrever a Ceia Eucarística.
Ela está no capítulo 6, onde fala da multiplicação dos pães para o povo (Jo 6,5-15). Está no longo discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-71). Está aqui no capítulo 13, onde insiste no serviço amoroso, simbolizado no lava-pés (Jo 13,1-17). Está no capítulo 19, onde descreve a morte de Jesus como cordeiro pascal (Jo 19,31-37).
A ceia narrada no evangelho de João é bem diferente daquela narrada nos outros evangelhos. Aqui no quarto evangelho não se fala em comer o corpo e beber o sangue de Jesus num memorial até que ele venha (1Cor 11,23-26).
No Evangelho de João, o pão e o vinho são substituídos pelo gesto de lavar os pés de seus discípulos e discípulas. Gesto de amor e de entrega que precede e conduz à sua glorificação. "Tendo amado os seus, Jesus amou-os até o fim" (Jo 13,1). Este mandamento de serviço e de amor é que purifica qualquer pessoa que queira seguir Jesus (Jo 15,3).
O gesto de lavar os pés não é feito antes da ceia, mas durante a ceia. Jesus não quer fazer um mero gesto de purificação ou higiene. Durante a ceia (Jo 13,2) ele se levanta, tira o manto, que é um gesto de entrega e serviço (Jo 13,4), e ele mesmo derrama a água na bacia para lavar os pés de seus discípulos. Quando chega diante de Pedro, este toma o gesto de Jesus como se fosse de fato um gesto ritual de purificação e não aceita que Jesus lhe lave os pés (Jo 13,6-11). Jesus corrige a interpretação de Pedro e dá o sentido verdadeiro. O gesto do lava-pés significa que a verdadeira purificação acontece na entrega e no serviço (Jo 13,10). Significa também que Jesus é o Messias-Servo, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Por isso, se Pedro não aceitar tal gesto, não poderá estar em comunhão com Jesus (Jo 13,8). Para Jesus, os que aceitam sua mensagem, suas palavras e seus gestos, estão puros e prontos para o Reino. O que purifica a pessoa não é a observância da Lei, mas sim a prática das palavras de Jesus. Quem for capaz de amar como Jesus amou, receberá o Espírito que é serviço gratuito aos irmãos e irmãs (Jo 13,34-35). Este exemplo dele nos deixou (Jo 13,15). Mas na ceia nem todos estavam puros (Jo 13,11). O adversário se fazia presente em Judas (Jo 13,2). Mesmo assim, Jesus lava os pés de Judas antes que ele saia para cumprir sua missão (Jo 13,21-30). O amor vence o ódio!

O Livro da Glorificação e a hora de Jesus

O Livro da Glorificação (Jo 13,1 a 20,31) é chamado assim porque mostra a realização plena de tudo que Jesus vinha prometendo enquanto fazia os sete sinais nos capítulos anteriores. O Livro da Glorificação começa com a frase: "Sabendo Jesua que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13,1). Finalmente, chegou a hora de Jesus ser glorificado pelo Pai (Jo 12,23.27-28; 13,31; 17,1) e de ele nos revelar o verdadeiro rosto do Pai, que é o amor (1Jo 4,8.16). A frase mostra que Jesus está disposto a levar até o fim sua obra de revelar o amor do Pai.
A Hora de Jesus é a hora do seu retorno ao Pai. Como esta hora foi fixada pelo próprio Pai, ninguém sabe o momento exato em que ela acontecerá. Por isso, no Evangelho de João, na medida em que vamos acompanhando a caminhada de Jesus cresce o suspense com relação à chegada hora de Jesus. Este suspense atinge seu ponto máximo em Jo 17,1: "Pai, chegou a hora: glorifica teu Filho para que teu Filho te glorifique!"
A dinâmica do texto do Quarto Evangelho vai preparando o leitor para que ele mesmo possa descobri o momento certo da chegada desta hora. O suspense começa nas Bodas de Caná. Diante do pedido de sua mãe, Jesus diz que sua hora ainda não chegou (Jo 2,4). Mas a atuação de Maria mostra que a caminhada em direção à hora já foi iniciada e os sinais começam a surgir. Diante da samaritana Jesus diz que "virá a hora - e é agora - em que surgirão os verdadeiros adoradores do Pai" (Jo 4,23). Os sinais de Jesus aumentam o suspense. Por duas vezes, os inimigos querem prendê-lo, mas ainda não tinha "chegado a sua hora", e a prisão não acontece (Jo 7,30 e 8,20). Para o evangelista não são os inimigos, mas sim o Pai quem determina a hora de Jesus. Quando chegar a hora da elevação do Filho do Homem, acontecerá, ao mesmo tempo, a glorificação de Jesus e a derrota de seus adversários (Jo 12,31-32).
Os sinais feitos por Jesus levam seus inimigos a planejar sua morte (Jo 11,45-54). Jesus sabe então que sua hora está chegando (Jo 12,23.27; 13,1;16,32). A tensão entre ele e seus adversários culmina na sexta hora, no momento em que se sacrificavam os cordeiros para a Páscoa (Jo 19,14). Nesta hora Jesus, o novo cordeiro de Deus, inaugura a nova Páscoa. Este exato momento entre a hora de Jesus como cordeiro e sua gloriosa subida para o alto é descrito com belas palavras em Ap 5,5-14.
Para as comunidades do Discípulo Amado também chegará a hora. Para cada discípulo ou discípula o encontro com Jesus acontece numa hora marcante e inesquecível (Jo 1,39). Mas o suspense que existiu entre Jesus e o mundo também continuará a existir entre a comunidade e o mundo. Para a comunidade chegará uma hora semelhante à de Jesus (Jo 16,2). Esta hora significa perseguições e morte (Jo 16,4). Diante do exemplo deixado por Jesus, as comunidades chegarão, através desta hora, à alegria que vem de Deus (Jo 16.21-22).

segunda-feira, 2 de abril de 2012

NA CASA DE BETÂNIA UMA DISCÍPULA FIEL

Na casa de Betânia uma discípula fiel - Mesters e Lopes

NA CASA DE BETÂNIA UMA DISCÍPULA FIEL
Mc 14,1-15
  
Extraído livro Caminhando com Jesus - Círculos Bíblicos de Marcos - II Parte, de Carlos Mesters e Mercedes Lopes. Mais informações: vendas@cebi.org.br
SITUANDO
Os capítulos 14, 15 e 16 narram a paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao longo destes três capítulos, "crescem a ruptura e a morte e aparece a vitória sobre a morte". A vitória sobre a morte aparece não só no fim, na ressurreição, mas já está presente, desde o começo, na própria maneira de descrever a paixão e a morte de Jesus. Ela transparece, por exemplo, na calma com que Jesus enfrenta a morte e na maneira como ele encara e interpreta os acontecimentos da sua paixão. A vitória vai crescendo, até manifestar-se plenamente na ressurreição. Jesus não é um derrotado. Derrotados, sim, são os que o matam. A vitória da vida transfigura a morte de Jesus.
Sofrimento, paixão e morte eram o pão de cada dia das comunidades cristãs nos anos 70. Na maneira de descrever o sofrimento, a paixão e a morte de Jesus, Marcos as ajuda a experimentar, desde já, no meio do sofrimento, algo da vitória da vida sobre a morte.

COMENTANDO  
Marcos 14,1-2: O pano de fundo - a conspiração contra Jesus
No fim da sua atividade missionária, chegando em Jerusalém, Jesus é aguardado e vigiado pelos que detêm o poder: sacerdotes, anciãos, escribas, fariseus, herodianos, saduceus e romanos. Eles têm o controle da situação. Não vão permitir que Jesus, um carpinteiro agricultor lá do interior da Galiléia, provoque desordem na capital. A morte de Jesus já estava decidida por eles (Mc 11,18; 12,12). Jesus era um homem condenado. Agora vai realizar-se o que ele mesmo tinha anunciado aos discípulos: "O Filho do Homem vai ser entregue e morto" (Mc 8,31; 9,31; 10,33).
Marcos 14,3-5: A unção de Jesus por uma discípula e a críticas dos discípulos
Uma mulher, cujo nome não é mencionado, unge Jesus com um perfume caríssimo. Num gesto de total gratuidade, ela quebra o frasco. Os discípulos criticam o gesto. Acham que é um desperdício. De fato, 300 denários eram o salário mínimo de 300 dias! O salário de quase um ano inteiro foi gasto de uma só vez.
Marcos 14,6: A resposta de Jesus "Uma boa ação para mim!"
Os discípulos olham o gasto e criticam a mulher. Jesus olha o gesto e defende a mulher: Por que vocês aborrecem esta mulher? Ela praticou uma ação boa para comigo. Ela se antecipou a ungir meu corpo para o enterro. Naquele tempo, uma pessoa condenada à morte de cruz não recebia sepultura e não podia ser ungida, pois ficava pendurada na cruz até que os bichos comessem o cadáver, ou recebia sepultura rasa de indigente. Jesus ia ser condenado à morte de Cruz, consequência do seu compromisso com os pobres e da sua fidelidade ao projeto do Pai. Não ia ter enterro. Por isso, depois de morto, não poderia ser ungido. Sabendo isso, a mulher se antecipa e o unge antes de ser crucificado. Com este gesto, ela mostra que aceita Jesus como Messias, mesmo crucificado! Jesus entende o gesto dela a o aprova. Anteriormente, Pedro teve a reação contrária. Para ele, um crucificado não podia ser o Messias. Por isso, tentou dissuadir Jesus, mas recebeu uma resposta duríssima: "Vai embora, Satanás!" (Mc 8,32).
Marcos 14,7: "Pobres sempre tereis!"
Jesus disse: "Vocês vão ter sempre pobres com vocês. E se quiserem podem fazer o bem a eles". Será que Jesus quis dizer que não devemos preocupar-nos com os pobres, visto que sempre vai haver pobre? Será que a pobreza é um destino imposto por Deus? Como entender esta frase? Naquele tempo, as pessoas conheciam o Antigo Testamento de cor e salteado. Bastava Jesus citar o começa de uma frase do AT e o pessoal já sabia o resto. O começo da frase dizia: "Você vão ter sempre pobres com vocês" (Dt 15,11a). O resto da frase que o pessoal já conhecia e que Jesus quis lembrar dizia: "Por isso, eu ordeno: abra a mão em favor do seu irmão, do seu pobre e do seu indigente, na terra onde você estiver!" (Dt 15,11b). Conforme esta lei, a comunidade devia acolher os pobres e partilhar com eles seus próprios bens. Mas os discípulos, em vez de "abrir a mão em favor do pobre e de partilhar com ele seus próprios bens, queriam fazer caridade com o dinheiro da moça. Queriam vender o perfume dela por 300 denários e usar esse dinheiro para ajudar os pobres. Jesus cita a Lei de Deus que ensinava o contrário. Quem faz campanha com dinheiro da venda do supérfluo não incomoda e não será condenado. Mas aquele que, como Jesus, insiste na obrigação de acolher os pobres e de partilhar com eles seus próprios bens, este incomoda e corre o risco de ser condenado.
Marcos 14,8-9: Em memória dela
Esta discípula anônima é modelo para Pedro e para os outros discípulos que não tinham entendido nada. Ela é modelo para todos nós, "em todo o mundo". Mais tarde, graças à intervenção de José de Arimatéia, Jesus teve o seu enterro.
Marcos 14,10-11: Judas decide trair Jesus
Em contraste total com a mulher que ungiu Jesus, Judas, um dos doze, resolve trair Jesus. Conspira com os inimigos, que lhe prometem dinheiro. Ele continua convivendo, mas apenas com o objetivo de encontrar uma oportunidade para executar o seu projeto de morte.
Marcos 14,12-15: Preparação da Ceia Pascal
Jesus sabe que vai ser traído. Mesmo assim, faz questão de confraternizar com os discípulos nesta Última Ceia. Ele deve ter gastado bastante dinheiro para poder alugar "aquela sala ampla, no andar superior, arrumada com almofadas" (Mc 14,15). Por ser noite de Páscoa, a cidade estava superlotada de romeiros. Era difícil encontrar uma sala para se reunir.
A Ceia Pascal era uma celebração familiar, presidida pelo pai, um leigo, e não pelo sacerdote. Por isso, Jesus, um leigo, manda dois discípulos preparar a sala para a Páscoa. Em seguida, ele preside a celebração junto com os discípulos e as discípulas, sua nova "família" (cf. Mc 3,33-35).

ALARGANDO
  
Em memória dela  
Em Mc 14,3-9 e Mt 26,6-13 encontramos o relato de uma mulher anônima que ungiu Jesus, preparando-o para a sepultura. O mesmo episódio da unção de Jesus com perfume encontra-se também em Jo 12,1-8. No texto de João, a moça do perfume tem nome. Ela é Maria de Betânia, a irmã de Marta e Lázaro, que durante um banquete, com um gesto profético, ungiu Jesus para o sepultamento (Jo 12,1-8). Ela é a discípula que gostava de ficar sentada aos pés de Jesus, escutando sua palavra (Lc 10,39). Discípula amada (Jo 11,5), que consegue encher a casa (comunidade) com o perfume que fica empapado em seus cabelos soltos e em suas mãos (Jo 12,3). Seu gesto amoroso será repetido por Jesus na celebração da Ceia (Jo 13,2-5). Ele expressa um traço importante da identificação dos discípulos e discípulas de Jesus, que é o serviço amoroso.
Estes três textos de Marcos 14,3-9, Mateus 26,6-13 e João 12,1-8 colocam o episódio da unção com perfume no contexto da Páscoa, quando Jesus já estava, por assim dizer, condenado à morte. "Então, a partir desse dia, resolveram matá-lo. Jesus, por isso, não andava mais em público, entre os judeus" (Jo 11,53-54). Procurado pela polícia, Jesus vivia clandestinamente com sues discípulos, na região próxima ao deserto (Jo 11,54). Foi nesta situação de incerteza e tensão que Marta, Maria e Lázaro convidaram Jesus para um banquete em sua casa de Betânia, seis dias antes da Páscoa. Com o banquete, buscam solidarizar-se com Jesus, assumindo com ele as consequências da sua missão.
O evangelho de Lucas 7,36-50 apresenta também uma mulher anônima, identificada como "uma mulher da cidade, uma pescadora" (Lc 7,37). Ela banha os pés de Jesus com suas lágrimas, enxuga-os com seus cabelos, beija-os e unge com perfume. Este texto não está no contexto da Páscoa, mas se encontra inserido dentro do ministério público de Jesus, quando ainda caminhava com seus discípulos e discípulas pela Galiléia. No centro do episódio narrado por Lucas não está a unção de Jesus para a sepultura, mas o rito de acolhida tão importante para as pessoas que percorriam longas distâncias a pé, pelas estradas poeirentas da Palestina.
No entanto, todos os textos têm algo em comum: a mulher é criticada pelo seu gesto e Jesus a defende diante de todos. No texto que acabamos de citar (Lc 7,36-50), a crítica vem de um fariseu de nome Simão. Seu olhar está acostumado com o julgamento e o controle. Ela nem conseguia fazer o gesto tão comum de acolhida carinhosa que sua cultura pede. Também não era capaz de perceber a Boa Nova de Deus, escondida no gesto da mulher.
Em Lucas 7,36-50, a defesa de Jesus mostra onde e como se manifesta o Dom de Deus. Não são os pecados da mulher que contam. O que vale mesmo é o amor, vivido nos pequenos gestos de gratuidade. "Porque muito amou, tem a minha paz!"
Em Mc 14,3-9; Mt 26,6-13 e Jo 12,1-8, a crítica vem de Judas e dos discípulos, que não aceitam o esbanjamento, o desperdício da moça na sua manifestação de amor a Jesus. Incomodados com o seu gesto, apelam para as necessidades dos pobres. Como vimos, Jesus não retira a importância da partilha com os pobres, mas esclarece que ela entendeu e acolheu a Boa Nova de Deus, expressando isso com o seu gesto. Por isso, "onde quer que venha a ser proclamado o Evangelho, em todo o mundo, se fará também memória dela" (Mc 14,9).

Paróquia do Toco

No dia 24 de março a diocese do Lubango celebrou com grande alegria a criação da paróquia do toco.
Nesta aldeia as Filhas de Sant'Ana realizam com dedicado empenho atividade pastoral junto ao povo, contribuindo assim na formação das lideranças da comunidade.
A paróquia tem como Padroeira
 Nossa Senhora da Muxima (mãe do coração) do Toco.


Liturgia festiva