quinta-feira, 27 de outubro de 2011

No Dia de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e a Justiça no Mundo

Discurso do Santo Padre em Assis



ASSIS, quinta-feira, 27 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos, a seguir, o discurso pronunciado pelo Papa Bento XVI na Basílica de Santa Maria dos Anjos, em Assis, no Dia de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e a Justiça no Mundo.
* * *
Queridos irmãos e irmãs,
distintos Chefes e representantes das Igrejas
e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,
queridos amigos,

Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo saliente daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a fronteira entre dois mundos. Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem derramamento de sangue. Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos factores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de carácter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.
Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde então a situação se caracterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de discórdias. E não é somente o facto de haver, em vários lugares, guerras que se reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre presente e caracteriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem. Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.
Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes. Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o carácter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem» pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.
A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de facto a violência é algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De modo mais subtil mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objecta-se: Mas donde deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por acaso não deriva do facto que se apagou entre vós a força da religião? E outros objectarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas? Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é «Deus do amor e da paz» (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo.
Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa, colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspecto multiforme, que possui uma motivação exactamente oposta: é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso. Como dissemos, os inimigos da religião vêem nela uma fonte primária de violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o desaparecimento da religião. Mas o «não» a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.
Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado; queria, antes, falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.
A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma concepção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida rectamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.
Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito. Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».
[© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana]

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Dia Mundial das Missões em Luanda

O Dia Mundial das Missões na Arquidiocese de Luanda foi celebrado na alegria festiva de encontro com as diversas Congregações Religiosas, onde apresentaram de forma simples e criativa a missão e carisma. Esteve presente a juventude de Luanda, questionando-se com relação a sua vocação e missão na Igreja.



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PAPA CONVOCA "ANO DA FÉ" 

LEMBRANDO VATICANO II

O Papa Bento XVI anunciou no dia 16 de outubro, a celebração de um “Ano da fé”, entre outubro de 2012 e novembro do ano seguinte, para assinalar o 50. º aniversário do Concílio Vaticano II (1962-1965). A revelação foi feita pelo Papa na homilia da missa a que presidiu, na basílica de São Pedro, no final de um encontro internacional com pessoas “empenhadas, em muitas partes do mundo, nas fronteiras da nova evangelização”.

“Decidi proclamar um “Ano da Fé”, que será ilustrado com uma Carta Apostólica. Terá início a 11 de outubro de 2012, no quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, e concluir-se-á a 24 de novembro de 2013, na solenidade de Cristo Rei do Universo. Será um momento de graça e de empenho para uma plena conversão a Deus, para reforçar a nossa fé e para anunciá-lo com alegria ao homem do nosso tempo”, indicou.

Após o final da missa, na recitação do Angelus, o Papa voltou a anunciar aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro (Vaticano) a celebração de um “ano especial de fé”, meio século depois da abertura do Concílio Vaticano, por considerar “oportuno recordar a beleza e centralidade da fé, a exigência de reforçá-la e aprofundá-la a nível pessoal e comunitário, numa perspectiva não tanto celebrativa, mas antes missionária”.

Na homilia que pronunciara na basílica do Vaticano, o Papa afirmou que “a teologia da história é um aspeto importante, essencial, da nova evangelização”, porque “após a nefasta época dos impérios totalitários do século XX, [os homens] têm necessidade de reencontrar um olhar abrangente sobre o mundo e sobre o tempo, um olhar verdadeiramente livre, pacífico. Trata-se daquele olhar que o Concílio Vaticano II transmitiu nos seus documentos e que Paulo VI e João Paulo II ilustraram com o seu magistério”, sublinhou.

Fonte: www.ecclesia.pt

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Missão

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O DIA MISSIONÁRIO MUNDIAL 2011

«Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21)

Por ocasião do Jubileu do Ano 2000, o Venerável João Paulo II, no início de um novo milénio da era cristã, afirmou com força a necessidade de renovar o empenho de levar a todos o anúncio do Evangelho «com o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 58). É o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade e a cada pessoa que está em busca das razões profundas para viver em plenitude a própria existência. Por isso, o mesmo convite ressoa todos os anos na celebração do Dia Missionário Mundial. Com efeito, o anúncio incessante do Evangelho vivifica também a Igreja, o seu fervor, o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais a fim de que sejam cada vez mais apropriados às novas situações — inclusive as que exigem uma nova evangelização — e animados pelo impulso missionário: «A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade cristãs, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece! A nova evangelização dos povos cristãos também encontrará inspiração e apoio, no empenho pela missão universal» (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 2).
Ide e anunciai
Este objectivo reaviva-se continuamente através da celebração da liturgia, em especial da Eucaristia, que se conclui sempre evocando o mandato de Jesus ressuscitado aos Apóstolos: «Ide...» (Mt 28, 19). A liturgia é sempre uma chamada «do mundo» e um novo início «no mundo» para testemunhar o que se experimentou: o poder salvífico da Palavra de Deus, o poder salvífico do Mistério pascal de Cristo. Todos aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado sentiram a necessidade de O anunciar aos outros, como fizeram os dois discípulos de Emaús. Eles, depois de ter reconhecido o Senhor ao partir o pão, «partiram imediatamente, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze» e contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho (Lc 24, 33-35). O Papa João Paulo II exortava a estarmos «vigilantes e prontos para reconhecer o seu rosto e correr a levar aos nossos irmãos o grande anúncio: “Vimos o Senhor”!» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 59).
A todos
Todos os povos são destinatários do anúncio do Evangelho. A Igreja «por sua natureza é missionária, visto que, segundo o desígnio de Deus Pai, tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo» (Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Ad gentes, 2). Esta é «a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar» (Paulo vi, Exort. ap. Evangelii nutiandi, 14). Consequentemente, nunca pode fechar-se em si mesma. Enraíza-se em determinados lugares para ir além. A sua acção, em adesão à palavra de Cristo e sob a influência da sua graça e caridade, faz-se plena e actualmente presente a todos os homens e a todos os povos para os conduzir rumo à fé em Cristo (cf. Ad gentes, 5).
Esta tarefa não perdeu a sua urgência. Aliás, «a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, ainda está bem longe do seu pleno cumprimento... uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão ainda está no começo e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço» (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 1). Não podemos permanecer tranquilos com o pensamento de que, depois de dois mil anos, ainda existam povos que não conhecem Cristo e ainda não ouviram a sua Mensagem de salvação.
Não só mas aumenta o número daqueles que, embora tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e abandonaram, já não se reconhecem na Igreja; e muitos âmbitos, inclusive em sociedades tradicionalmente cristãs, hoje são refratários a abrirem-se à palavra da fé. Está em acto uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, de movimentos de pensamento e de relativismo imperante, uma mudança que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida que prescindem da Mensagem evangélica, como se Deus não existisse e exaltam a busca do bem-estar, do lucro fácil, da carreira e do sucesso como finalidade da vida, inclusive em detrimento dos valores morais.
Co-responsabilidade de todos
A missão universal envolve todos, tudo e sempre. O Evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas é um dom a partilhar, uma boa notícia a comunicar. E este dom-empenho está confiado não só a algumas pessoas, mas a todos os baptizados, os quais são «raça eleita... nação santa, povo adquirido» (1 Pd 2, 9), para que proclame as suas obras maravilhosas.
Estão envolvidas também todas as suas actividades. A atenção e a cooperação na obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos ou ocasiões particulares, e nem devem ser consideradas como uma das tantas actividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial e, portanto, deve estar sempre presente. É importante que tanto cada baptizado como as comunidades eclesiais se interessem pela missão não de modo esporádico e irregular, mas de maneira constante, como forma de vida cristã. O próprio Dia Missionário não é um momento isolado no decorrer do ano, mas uma ocasião preciosa para nos determos e reflectirmos se e como correspondemos à vocação missionária; uma resposta essencial para a vida da Igreja.
Evangelização global
A evangelização é um processo complexo e inclui vários elementos. Entre estes, uma atenção peculiar da parte da animação missionária sempre foi dada à solidariedade. Este é também um dos objectivos do Dia Missionário Mundial que, através das Pontifícias Obras Missionárias, solicita a ajuda para a realização das tarefas de evangelização nos territórios de missão. Trata-se de apoiar instituições necessárias para estabelecer e consolidar a Igreja mediante os catequistas, os seminários, os sacerdotes; e também de oferecer a própria contribuição para o melhoramento das condições de vida das pessoas em países nos quais são mais graves os fenómenos de pobreza, subalimentação sobretudo infantil, doenças, carência de serviços médicos e para a instrução. Isto também faz parte da missão da Igreja. Anunciando o Evangelho, ela toma a peito a vida humana em sentido pleno. Não é aceitável, afirmava o Servo de Deus Paulo VI, que na evangelização se descuidem os temas relativos à promoção humana, à justiça e à libertação de todas as formas de opressão, obviamente no respeito pela autonomia da esfera política. Não se interessar pelos problemas temporais da humanidade significaria «esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo que sofre e está em necessidade» (cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 31.34); não estaria em sintonia com o comportamento de Jesus, o qual «percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todas as enfermidades e doenças» (Mt 9, 35).
Assim, através da participação co-responsável na missão da Igreja, o cristão torna-se construtor da comunhão, da paz, da solidariedade que Cristo nos concedeu, e colabora para a realização do plano salvífico de Deus para toda a humanidade. Os desafios que ela encontra chamam os cristãos a caminhar juntamente com os outros, e a missão faz parte integrante deste caminho com todos. Nela conservamos, embora em vasos de barro, a nossa vocação cristã, o tesouro inestimável do Evangelho, o testemunho vivo de Jesus morto e ressuscitado, encontrado e acreditado na Igreja.
O Dia Missionário reavive em cada um o desejo e a alegria de «ir» ao encontro da humanidade levando Cristo a todos. Em seu nome concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, em particular àqueles que mais trabalham e sofrem pelo Evangelho.
Vaticano, 6 de Janeiro de 2011, Solenidade da Epifania do Senhor.

BENEDICTUS PP. XVI

terça-feira, 11 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Seminário Pan-Amazônico em Manaus

Por Nadia Caetano e Rosinha Martins|
“Além de nossas cuias, levamos paneiros e redes, tecidas de sonhos e de desejos, ocupando brechas que abrem novos rios de vida abundante para todos e todas”.


Terminou na tarde deste domingo, 09, o Seminário Pan-Amazônico, organizado pela Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas, em parceria com a CRB Nacional – Conferência dos Religiosos do Brasil.
O Evento contou com a participação e assessoria de Antropólogos, teólogos, biblistas, religiosos missionários que atuam região Pan-Amazônica, que inclui os países da Bolívia, Venezuela, Equador, Peru, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Brasil.
Em sua fala o doutor em Filosofia, Antropologia e Lingüística, atuante na missão junto aos indígenas bolivianos, o sacerdote jesuíta Padre Xavier Albó, entre outras colocações deu ênfase à arte do bem viver como uma das expectativas a serem alcançadas no exercício da missão na Amazônia.
“O que é o bem viver? Alguns  nos dirão que bem-viver é tomar muita cerveja ou andar por aí, a “La dolce vita” como dizem os italianos. Porém os povos indígenas quando dizem da arte do bem-viver, tem um outro conceito. Sendo interrogados Aymaras da Bolívia,  por estudioso  alemão sobre o conceito de desenvolvimento, responderam que em seus dicionários não existia essa palavra, e que a eles não interessava o desenvolvimento e sim “soma camaña”, aymara, o que quer dizer “bem-viver”.
E viver bem significa que todos vivam bem. O contrário de viver bem não é viver melhor, porque viver melhor significa viver melhor que outros, ter mais possibilidades  e outros vivem marginalizados.
E o missionário continua: “Logo, viver bem, para mim, então é como algo que é conectivo, que serve para todos e que portanto se opõe a todos programas os programas de desenvolvimento que fazem com que uns vivam melhor que outros. O conceito de viver bem deve ser algo inclusivo, que não seja propriedade de poucos, afirmou.
A Teóloga Irmã Vera bombonato relatou sobre o papel da teologia no processo de reflexão sobre os desafios, importância e missão na Amazônia: “ Nesse processo do bem –viver  a teologia ocupa um lugar central por ser a inteligência da fé, pois ajuda a compreendê-la. Ela tem também a função de iluminar a nossa práxis; traz Deus mais para perto de nós. Essa é a sua função da teologia: iluminar os caminhos, trazer Deus mais para perto de nós, ajudar a compreender o momento histórico, o projeto de Deus  a a fim de que este possa ser realizado.
Segundo a Biblista, Irmã Zenilda, a Palavra de Deus ocupa um lugar fundamental na reflexão e na missão cotidiana na Amazônia.“É necessário evidenciar a importância Palavra de Deus neste contexto da Amazônia. Nós cremos que ela criou tudo e certamente quando Deus criou a Amazônia, percebeu que isso aqui era muito bom, ficou feliz com a criação deste novo paraíso.
Nós, Igreja, Vida Consagrada, Cristãos, Servidores do Reino, Evangelizadores, necessitamos de novas sensibilidades para bem fazer uma leitura bíblica, menos dogmática, menos doutrinária, que resgate o Deus da vida, o Deus da Criação, que faça perceber o quanto a Palavra de Deus já nos antecipa nesta realidade.
A nós cabe ter um olhar sagrado, sacramental para percebermos melhor essa Palavra já encarnada em nossa realidade amazônica. E como biblista gostaríamos de contribuir que se evidencie essa Palavra viva de Deus na realidade. Os nossos povos, as nossas comunidades são extremamente sensíveis para com ela. E uma leitura bíblica bem contextualizada, bem fundamentada, bem situada ajuda-nos profundamente a defender a vida na Amazônia.
Os desafios da missão na realidade dos países que compõem o bioma amazônico tem sido desafiantes pelas dificuldades sócio-políticas e econômicas: “Estamos trabalhando numa fronteira e fronteira supõe sempre relações com governos diferentes, cada um com sua realidade, com suas leis, sua maneira de ser, famílias dos dois lados da fronteira o que gera constantes conflitos; a maioria dos caminhos é via rio, o que gera dificuldades; a guerrilha na divisa com Colômbia e Equador.
Ser missionário é como diz nosso carisma, é levar a consolação que vem de Deus, por meio da Virgem Maria”, disse o Irmão Julio Caldeira que atua na tríplice fronteira: Colômbia, Equador e Peru.
O Seminário contou, ainda com a participação e colaboração do sacerdote Jesuíta, Padre Fernando, membro da Equipe Itinerante na Amazônia. Padre Fernando ressaltou em sua fala a importância da formação mística e profética para a missão Amazônia. Uma espiritualidade para a missão nas fronteiras requer uma atitude de profunda confiança no amor do Pai.
Lembrou ao grupo o pensamento iluminador de Dom Helder Câmara: “Aceita as surpresas que transtornam teus planos, derrubam teus sonhos, dão rumo totalmente diverso ao teu dia e, quem sabe, a tua vida. Não há acaso. Dá liberdade ao Pai, para que Ele mesmo conduza a trama de teus dias”.
Além dos momentos de reflexão, o grupo pode fazer experiências de convivência e oração permeadas pela cultura e a espiritualidade própria da Amazônia.
Esteve presente em todos os momentos do Seminário, o presidente da Comissão para a Amazônia, da Conferência dos Bispos do Brasil(CNBB), o Cardeal Dom Claudio Hummes, que manifestou a sua satisfação em estar um  grupo que manifesta amor pela missão na Igreja e pela Amazônia.
“Cheguei aqui feliz e volto mais feliz ainda por encontrar pessoas tão entusiasmadas e comprometidas com os povos desta terra e com a defesa da vida”, disse.
O segundo Seminário Pan-Amazônico acontecerá em 2013. O evento teve seu termino com a elaboração de uma mensagem final para a Igreja, a Vida Religiosa e a sociedade em geral, definição de linhas de ação, estratégias e atividades que garantam a inter-institucionalidade e intercongregacionalidade para uma Evangelização nos países afins, em vista da defesa da vida.

domingo, 9 de outubro de 2011

Festa no Centro Pastoral São Francisco de Assis - Luanda

O Centro Pastoral São Francisco é uma comunidade da Paróquia Santo Antônio, onde as FSA se doam no serviço de Evangelização, assessorando grupos e acompanhando as lideranças.
Na comemoração do seu padroeiro, celebraram com reflexões sobre a vida de São Francisco, noite de adoração ao Santíssimo Sacramento, culminado com a solene celebração Eucarística neste domingo. Vivendo a comunidade em um clima de alegria e fraternidade a Festa de São Francisco de Assis.


Procissão das Ofertas

Confraternização, danças e alegria.

Crise no Nordeste Africano, preocupação da Igreja


Cardeal Sarah: “Faltam ajudas econômicas e escolas em cada povoado”


CIDADE DO VATICANO, (ZENIT.org) – “É necessário que a comunidade internacional e seus organismos, entre eles a ONU, se coloquem em marcha para encontrar uma solução para a falta de um Estado na Somália.”
Dom Giorgio Bertin, que é administrador apostólico no martirizado país africano, lança um apelo para que se faça algo, agora, para resolver a dramática crise política, social, econômica e humanitária atravessada pelo Nordeste Africano.
Segundo as últimas estimativas do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), os conflitos e a seca mais grave dos últimos 60 anos estão provocando a fome de cerca de 13 milhões de pessoas na Somália, Etiópia, Jibuti e na região de Karamoja, na Uganda.
Intervindo em uma coletiva de imprensa no Vaticano, para informar sobre o compromisso da Igreja Católica neste canto do continente africano, Dom Bertin adverte: “Muito além da resposta emotiva – provocada, por exemplo, pelas imagens das crianças sofrendo –, é bom que se pergunte por que se chegou a esta situação”.
“Certamente, é necessário responder à emergência destes dias”; no entanto, “é necessário olhar também para o futuro”, para evitar que se repita. Como sublinhou à imprensa também Kenneth F. Hackett, presidente do Catholic Relief Services, dito de outra maneira, a palavra-chave é “planejamento”.
“Graças à Cáritas local e às paróquias, assistimos 1,1 milhão de pessoas, isto é, 10% da população afetada pela tragédia”, explica à mídia Michel Roy, secretário-geral da Cáritas Internacional. As petições são muitas: faltam barracas, água para beber, para o cultivo e para os animais, sementes, assistência para os portadores de deficiência e crianças menores de 5 anos. Isso sem falar da assistência psicológica e espiritual.
Mas “sobretudo – insiste Roy –, é necessário projetar o futuro, isto é, criar novos poços, sistemas de gestão hídrica, desenvolver sementes resistentes à seca e formar a população local para enfrentar as prováveis carestias que virão no dia de amanhã”.
Já foram entregues, por meio do Conselho Pontifício Cor Unum, quase 400 mil dólares para as primeiras intervenções, segundo recordou o presidente do dicastério, cardeal Robert Sarah, que lança um apelo pela educação e pede a construção de uma escola em cada povoado, para a Somália e o Nordeste Africano: “Onde há uma escola, há um futuro possível”.
Depois, dirigindo-se à comunidade internacional, o cardeal Sarah renovou o apelo de Bento XVI e explicou por que os Estados não podem fechar os olhos diante de um drama tão grande: “Infelizmente, muitas vezes advertimos que os mecanismos que governam a ação internacional estão marcados pela busca do interesse de cada país. Prevalecem os aspectos do egoísmo também na política internacional”.
“Devemos deixar-nos inspirar para levar a cabo uma política que leve em consideração verdadeiramente o bem comum – concluiu o cardeal Sarah. Somente a busca do bem comum permite que não haja vencedores e vencidos, verdugos e vítimas, exploradores e famintos. Deve prevalecer uma visão de homem e da sociedade na qual se valorize a economia em sua justa medida, não atribuindo-lhe a decisão última sobre o bem e o mal.”
Finalmente, falou-se sobre a atual colaboração que se está levando a cabo na Somália entre organismos católicos e muçulmanos; manifestou-se a colaboração ecumênica que distingue as igrejas cristãs do Nordeste Africano.
Durante a coletiva de imprensa, divulgou-se uma carta do arcebispo da Cantuária e primaz da Igreja Anglicana, Rowan Douglas Williams, na qual mostra suas preocupações e esperanças, desejando que nunca mais morra gente por fome e sede.
“Assisti a 15 conferências internacionais e conferências de paz para a Somália – concluiu Dom Bertin. Não devemos renunciar a acreditar somente porque as coisas não deram certo. É necessário, no entanto, que a comunidade internacional redobre seus esforços.”

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Seminário Amazônia: importância, desafios e missão

Por Nádia Caetano e Rosinha Martins
“Amazônia: importância, desafios e missão”. Este é o tema do Seminário sobre a Amazônia, organizado pela Confederação Latinoamericana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR) em parceria com a CRB Nacional- Conferência dos Religiosos do Brasil, que acontecerá de 7 a 9 de outubro, próximo, na Inspetoria Laura Vicuna, Manaus-AM.
O evento, que reunirá Religiosos e Religiosas dos países pan-amazonicos: Brasil, Bolivia, Colombia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Peru e Venezuela, propõe promover e articular uma reflexão sobre a  realidade sócio-cultural, econômica e ambiental do bioma amazônico, revitalizar a dimensão mística, profética e missionária da Vida Religiosa Consagrada e buscar possíveis linhas comuns de ação na missão amazônica. O Seminário também objetiva construir alianças e colaborações nas fronteiras geográficas e simbólicas, de forma articulada, em sintonia com o Plano Global da CLAR e das Conferências de Religiosos e Religiosas dos países amazônicos, em comunhão com Igreja Latinoamericana e Caribenha; celebrar a vida e a fé, em diálogo com os saberes e as tradições dos povos da água e das selvas.
“Vivemos em uma sociedade capitalista e globalizada que se expressa em contextos  complexos que produzem angústia, que geram preocupação ecológica,  que destroem a natureza. A Igreja, por sua parte, não é alheia a estruturas “caducas” que freiam o projeto do Reino de Deus e sua justiça (Mt6,33)”, afirma Irmão Paulo Petry, Presidente da Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas.
De acordo com Irmão Paulo, o Seminário visa refletir sobre a vida ecológica ameaçada na Amazônia e em todo o planeta. Por isso, o evento quer, ainda, criar redes de solidariedade entre as Ordens Religiosas da Igreja Católica e entre as diversas instituições sociais e civis afins, em vista de uma atuação mais eficiente, eficaz e transformadora.
O evento é aberto para os Superiores Maiores das Comunidades Religiosas, localizadas na Amazônia, Presidentes e Assessores das Conferências de Religiosos/as dos países amazônicos; missionários e missionárias que atuam nas fronteiras e equipes itinerantes; Representantes da Confederação Latinoamericana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Conselho Indigenista Missionário(CIMI), Comissão Pastoral da Terra(CPT), Conselho Missionário Regional(COMIRES), Conselho Missionário Diocesano(COMID), Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social da Amazônia(SARES) e Conselhos de Presbíteros e Leigos/as.
Onde as ameaças contra a vida assumem proporções sempre mais preocupantes, colocar a Amazônia no centro das reflexões e ações da Vida Religiosa Consagrada, significa aceitar o desafio de deixar-nos questionar, surpreender e envolver numa permanente presença criadora e libertadora. Significa também tornar-nos um sinal profético de resistência contra todas as formas de morte. É hora de colocarmos nosso ouvido e nosso “olhar fixo em Jesus” para, juntos, escutarmos a Deus onde a vida clama”, relatou o presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas, Irmão Paulo Petry.


“Sac say waman Pi / Pucuy, Pucuy, cha./ Ima ya manta can ri/ Wan can qui”. A tradicional canção “Cusco” do Peru, foi cantada e tocada ao som do charango pela chilena Francisca Espinoza, da equipe itinerante da Amazônia. A canção foi o momento marcante da oração inicial do Seminário que convidava os participantes a contemplar em meio e no silêncio da natureza, a vida que palpita no bioma amazônico. O som ensurdecedor de uma motosserra quebrava o silêncio e permitia ao grupo refletir a Palavra de Deus que, lida naquele contexto permitia sentir o apelo de defesa da vida.
Participaram da mesa na seção de abertura, a presidente Nacional da Conferência dos Religiosos do Brasil, Irmã Márian Ambrosio, idp, a presidente Regional da Conferência dos Religiosos de Manaus, Irmã Guaracema Siqueira Tupinambá, cns-csa, o presidente da Comissão para a Amazônia da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Claudio Hummes e o presidente da Confederação Latino-ameicana e Caribenha de Religiosos e Religiosas, Irmão Paulo Paulo Petry.
“Encontramo-nos em Manaus. Encontrar-se significa que não nos fechamos em nosso mundo, e que desejamos construir relações capazes de fazer deste mundo um lugar melhor para viver, ouvindo a Deus onde a vida clama. Deixemo-nos iluminar pela sua Palavra. Ao participar deste seminário deixamos o espaço importante, mas reduzido, do próprio eu, da própria congregação, da própria conferencia nacional para junto com outras/os religiosas/os formar comunidade intercongregacional e assim celebrar a vida e a fé, em diálogo com os saberes e as tradições dos povos da água e da selva”, expressou Irmão Paulo.
Irmã Marian Ambrosio saudou os missionários que tem atuado significativamente em solo amazônico:
“Quero saudar os irmãos que estão inseridos, encarnados em território amazônico, sejamos brasileiros e brasileiras sejamos irmãos e irmãs de outras Conferencias ou outras nacionalidades”. Esperamos que não seja um momento teórico, mas que possamos abraçar o chão da experiência.
Irmã Marian manifestou sua alegria presença da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, representada pelo presidente da Comissão para a Amazônia, Dom Claudio Hummes. “Me alegro com a presença do senhor aqui, porque aqui é o chão onde é possível dizer que esse projeto é nosso. A sua presença é o caminho evidente, testemunhal de um desejo de comunhão.
Dom Claudio ressaltou em sua fala o seu contentamento sincero e felicidade por ter sido escolhido para esta comissão porque esse foi seu sonho desde jovem missionário. Essa comissão significa sinal de como a CNBB quer manifestar seu amor pelo povo, pela Igreja da Amazônia. Não sei como vou representar esse sinal, mas venho aqui para dizer que queremos caminhar juntos, sofrer juntos, ter aspirações juntos (…) Que essa terra da Amazônia faça diferença e se desenvolva sem perder suas características. A Comissão tem dois objetivo de caminhar junto com o povo da Amazônia e conscientizar a Igreja do Brasil a se solidarizar com ela. Vim para escutar, ouvir e estar junto”, afirmou.

Ide às encruzilhadas e chamai todos/as para a festa - Mateus 22,1-14 - Paulo Ueti



Uma das pilastras da vida evangélica é o reconhecimento de que todas/os nós somos irmãos em Cristo. Não deveria haver espaço para intolerâncias, sexismos, preconceitos, privilégios, especialmente no que diz respeito à misericórdia e à graça de Deus para com a vida no planeta. "Não há judeus nem gregos, escravos ou livres, homens ou mulheres, todos somos UM em Cristo Jesus" (Gálatas 3,28).
Mas esse é um ideal a ser perseguido todos os dias. É um objetivo a ser reafirmado a cada manhã  quando acordamos. Não é fácil. Isso vai contra o jeito patriarcal das sociedades se organizarem. Ser irmão no patriarcado é muito revolucionário. Ser irmão nos impérios é subversivo.
Nas primeiras comunidades, havia esse enfrentamento muito forte. Por um lado, o desejo de seguir Jesus, que já nos anos 80 estava enfraquecendo como projeto global das comunidades. Por outro lado, o desafio de sobreviver na convivência dentro do império em meio a gente de grupos sociais diferentes. Judeus tinham muita dificuldade de superar séculos de intolerância e "ensimesmamento". O Evangelho segundo Mateus guardou bem esses conflitos entre judeus e não-judeus.
A parábola que lemos neste domingo em algumas igrejas possui duas partes. A primeira reflete bem o desejo de ser uma comunidade aberta a todas as pessoas. O reino dos céus é para todas as pessoas. A imagem da festa é muito apropriada e reflete que os "convidados tradicionais e de direito - judeus" não aceitam o convite. Então o convite é feito para todos: maus e bons (gentios e judeus que estão nas margens). A violência do rei é expressão do que aconteceu pelos anos 70 quando Jerusalém foi destruída pelas tropas de Roma durante a guerra judaica naquele período. É uma adição difícil de ser engolida no contexto da parábola como tal.
A segunda parte, ainda com um tom de violência e exclusão, difícil de ser entendida, conta que, mesmo a festa sendo para todas as pessoas, um requisito era necessário para estar lá. Estar vestido apropriadamente. Pode ser uma alusão ao batismo, rito de passagem para tornar-se membro pleno da comunidade, onde você era "revestido do Cristo" para uma vida nova, abandonando sua vida antiga. Parece que tinha gente na festa que aceitou o convite, mas pela metade. Queria estar na festa com roupas antigas, estava apegada ainda ao passado e resistindo a "vestir-se apropriadamente" para essa nova etapa da vida. Por isso, o resultado é que não pode estar ali. Tem que voltar para fora e converter-se ao novo modelo de festa, onde todas as pessoas podem entrar mas, ao entrar, precisam estar com novos compromissos e novo estilo de vida (o que a parábola chama de "estar vestido apropriadamente").
Novos compromissos (festa de bodas - estar com a comunidade, ali representada pelo noivo/a) exigem da gente nova roupagem, nova atitude, novo jeito de perceber e se relacionar com a vida. Por isso, poucos são os "escolhidos". A festa continua lá, não está encerrada, mas é necessário estar "vestido apropriadamente" (estar cristificado) para entrar na mesma e se aproveitar da presença do noivo/a.
A comunidade de Mateus, assim como a nossa hoje, deve enfrentar esse conflito ético e estético comunitário, em termos de avaliação acerca dos compromissos que assumimos como cristãos e a expressão (ou ausência de expressão) desses compromissos. Como vivemos, como nos comportamos, como nos relacionamos conosco mesmos e com as outras pessoas, que cuidado/relação estabelecemos com o planeta onde moramos? Estamos ao menos conversando sobre tudo isso na comunidade?
São desafios que o reino de Deus, conteúdo de nossa parábola, nos aponta. Quando não assumimos novos compromissos, frutos da nova espiritualidade, há ranger de dentes e escuridão, situações que necessitam de intervenção e mudança de vida para mudarem. O desafio é aceitar o convite, vestir-se do Cristo e olhar o mundo através de seu olhar de misericórdia, compromisso incansável e apaixonado por festas e novidades.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Fátima, o triunfo do coração mariano


No mês do rosário, santuário ferve de peregrinos


FÁTIMA, quinta-feira, 6 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – Amanhã, será comemorada a festividade de Nossa Senhora do Rosário, no mês dedicado também a esta devoção espiritual. No santuário de Fátima, um dos mais visitados do mundo, onde a Mãe de Jesus pediu que se estendesse esta devoção, a atividade não diminui.
No último dia 12 de setembro, o cardeal Tezzamanzi falou aqui do segredo de Fátima: “Nesta noite, com Maria, podemos renovar a nossa fé no Espírito do Ressuscitado que conduz a história: o segredo de Fátima – afirmou o então Cardeal Ratzinger – é 'sangue e lágrimas', da qual todos vemos os trágicos efeitos também nos nossos dias, abre-se, na comunicação da Virgem aos três Pastorinhos, com uma visão de esperança: 'No cimo da montanha – recorda o Cardeal Ratzinger , descrevendo a visão do dia 13 de julho de 1917 – está a cruz, meta e ponto de orientação da história. Na cruz, a destruição é transformada em salvação; ergue-se como sinal da miséria da história e como promessa para a mesma'”.
Na homilia do dia 13, o cardeal emérito de Milão disse que “uma das heranças espirituais mais belas que as aparições marianas em Fátima nos deixaram é a devoção ao Imaculado Coração de Maria”, uma devoção que, segundo o prelado, “pode indicar-nos o caminho para que, também nós, nos convertamos em templo do Senhor”.
E se perguntou: “Como era o coração de Maria? Podemos pensar que o coração de Maria era um coração misericordioso”.
Jaime Vilalta Berbel, espanhol residente em Fátima, agente de viagens especializado em santuários marianos e autor de quatro edições do livro “Os segredos de Fátima”, já prepara uma nova e quinta edição, corrigida e aumentada, com interessantes pormenores, como o fenômeno visto em Fátima no último dia 13 de maio.
“Alguns choravam e outros muitos gritavam; 'Milagre!' – comenta a ZENIT. Todos os presentes em Fátima viram uma auréola com as cores do arco-íris, circundando o sol, fato que jamais tinha sido visto em Fátima, mas que recorda a dança e o milagre do sol de 13 de outubro de 1917.”
Vilalta, que dirige uma agência especializada em turismo religioso – CAESFA –, informa sobre a incessante atividade do santuário mariano português.
São numerosas as peregrinações procedentes, por exemplo, da Espanha, que pretendem visitar o santuário de Fátima: paróquias, grupos, movimentos leigos e irmandades de grande parte do território nacional.
A peregrinação internacional de aniversário e comemorativa da sexta e última aparição será presidida pelo arcebispo de Moscou, Paolo Pezzi, nos próximos dias 12 e 13 de outubro.
O santuário mariano marcou um itinerário rumo à celebração do centenário das aparições, o “Itinerário do Peregrino”. Este primeiro ano do percurso se centra na mensagem do anjo e na atitude fundamental de adoração, bem como nos lugares para visitar como peregrinos.

CAMPANHA MISSIONÁRIA

Campanha Missionária 2011

“Missão na Ecologia”. É com este tema que as Pontifícias Obras Missionárias (POM) realizam a Campanha Missionária 2011. A temática, como todos os anos, está diretamente ligada ao tema da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que este ano é “Fraternidade e a Vida no Planeta”.

Assim como a CF-2011, a Campanha Missionária é um sinal da preocupação com a preservação do meio ambiente e conscientização ecológica. A CM, no entanto, alarga os horizontes para todo o mundo, por ser este o objetivo principal das Pontifícias Obras Missionárias.

Como extensão da Campanha da Fraternidade, cabe à Campanha Missionária dar uma ênfase maior à dimensão missionária; logo, todo o seu material se volta para a universalidade da missão.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Mês Missionário

Intenção do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Missões


"Para que a celebração do Dia Mundial das Missões", de 23 deste mês de outubro, "faça crescer no Povo de Deus a paixão pela evangelização e o apoio à atividade missionária com a oração e a ajuda econômica às Igrejas mais pobres." Essa é a intenção missionária de Bento XVI para o mês de outubro. Trata-se de um tema, o da evangelização, ao qual o papa dedicou numerosos pronunciamentos.


O anúncio do Evangelho "é o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade": é o que escreve o papa na mensagem para o próximo Dia Mundial das Missões. O Pontífice ressalta que a evangelização vivifica a Igreja e o seu espírito apostólico.

Por outro lado, Bento XVI sempre fez questão de precisar que "se não é animada pelo amor", a missão se reduz a atividade filantrópica. Para os cristãos vale, ao invés, a exortação do Apóstolo Paulo: "O amor de Cristo nos impele".

“Todo batizado pode assim cooperar para a missão de Jesus, que se resume nisto: levar a toda pessoa a boa notícia que "Deus é amor" e, justamente por isso, quer salvar o mundo." (Angelus, 22 de outubro de 2006).

O papa observa a urgência da evangelização para os homens do nosso tempo: que nenhum povo, são seus votos, seja privado da luz de Cristo. E isso, prossegue o pontífice, mesmo se na obra missionária se encontram mil dificuldades, até a disponibilidade "a dar a própria vida pelo nome de Cristo e por amor aos homens".

"Quem participa da missão de Cristo deve inevitavelmente enfrentar tribulações, contrastes e sofrimentos, porque se depara com as resistências e os poderes deste mundo. E nós, como o Apóstolo Paulo, não temos como armas nada mais que a Palavra de Cristo e a sua Cruz." (Discurso às Pontifícias Obras Missionárias, 21 de maio de 2010)

O Papa recorda, ainda, que todos os cristãos, não somente os missionários, existem "para mostrar Deus aos homens. E somente onde se vê Deus, a vida começa verdadeiramente". "Não há nada mais bonito" – dissera na missa de início do Pontificado – do que conhecer Cristo e "comunicar aos outros a amizade com Ele".

"A evangelização precisa de cristãos com os braços elevados a Deus no gesto da oração, de cristãos movidos pela consciência de que a conversão do mundo a Cristo não é produzida por nós, mas nos é concedida." (Discurso às Pontifícias Obras Missionárias, 21 de maio de 2010)

"Tudo na Igreja está a serviço da evangelização" – reitera – e "todo cristão deveria assumir como algo pessoal a urgência de trabalhar pela edificação do Reino de Deus". Mas sobre quais bases fundar a missão? O Papa indica na Palavra de Deus e nos Sacramentos os fundamentos sólidos da evangelização.

"Somente profundamente radicados em Cristo e em sua Palavra se é capaz de não ceder à tentação de reduzir a evangelização a um projeto somente humano, social, ocultando ou silenciando a dimensão transcendental da salvação oferecida por Deus em Cristo. É uma Palavra que deve ser testemunhada e proclamada explicitamente, porque sem um testemunho coerente ela se torna menos compreensível e crível." (Discurso às Pontifícias Obras Missionárias, 14 de maio de 2011).

Com Rádio Vaticano

sábado, 1 de outubro de 2011

"Fazer parte da vinha de Deus não é privilégio"

(Mateus 21,33-43) - Pe. Luis Sartorel

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Muitas comparações foram feitas para falar das atitudes e da história do povo de Israel e da sua relação amorosa (mas cheia de tempestades) com o seu Deus. A alegoria da vinha que encontramos no profeta Isaías (Is 5,1-7) era entre as mais conhecidas pelo povo. A vinha é Israel, cheia de ingratidão porque não produz os esperados frutos de justiça, e sim violência e opressão, apesar de todos os cuidados que Deus tem para com ela. Esta alegoria aparece de novo no cap. 21 do evangelho de Mateus. Em Mateus, para compreender melhor o desenvolver do drama, podemos notar a sequência das narrativas no capítulo 21: Jesus entra em Jerusalém (Mateus 21,1-17) e vai logo ao templo para expulsar os vendedores, entrando em conflito direto com os chefes do povo. Em continuidade, vem outra metáfora do povo e suas instituições, o episódio da figueira estéril (Mateus 21,18-22). Depois, segue a parábola dos dois filhos e o debate de Jesus com as autoridades sobre o batismo de João (Mateus 21,23-27), para, enfim, chegar ao texto deste domingo, onde Jesus retoma a imagem da vinha. É, portanto, um capítulo onde os conflitos vão se aguçando fortemente, tornando Jesus cada vez mais incômodo para as autoridades.
 
A história poderia ser diferente
 
Jesus retoma esta alegoria, mas mudando o acento: ele não acusa a vinha de não produzir uva, como o texto de Isaías, e sim os agricultores, os responsáveis pela produção. São os arrendatários que desviam o fruto da videira e sonegam o pagamento ao patrão. Mas aqui é bom fazer uma distinção e, para entender melhor, vou contar uma história.
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Antigamente, na região do mediterrâneo, quando era a época da colheita da uva, as famílias dos agricultores se juntavam para fazer uma vindima mais rápida e fazer um trabalho de mutirão nas terras dos vizinhos. Muitas vezes participavam deste mutirão também pessoas que não tinham terra e sempre havia muitas crianças pulando, brincando e querendo ajudar a colher a uva. Ao final do dia, os arrendatários arrumavam um saco e colocavam dentro alguns cachos de uva para este povo levar para casa e as crianças poderem comer, dizendo aos amigos: "Levem, enquanto o patrão não vê". É claro que, se fosse por ele, o patrão, nem um grão desta uva seria doado, porque só ele "tem direito" ao lucro. Assim, eu acredito, Jesus tinha vivido no seu tempo de criança: participando de uma festa feita com os dons da caridade escondida, mas que vem do coração e que se preocupa com a vida do povo. A ganância do patrão se preocupa somente com o lucro e não com a vida das pessoas que trabalham na sua terra.
Por isso, Jesus não acusa a vinha (isto é, o povo) de não produzir frutos, mas acusa diretamente os que são responsáveis pela organização e pela produção deste mesmo povo. Este aspecto pode ser entendido melhor se a gente pensa no dono da vinha como sendo Deus, os arrendatários sendo os chefes do povo, enquanto a vinha é o povo que deve ser conduzido.
Continuando com a comparação feita na história, o povo simples, representado pelos agricultores que trabalham a terra e cultivam a videira, pode até errar, mas sempre tem no fundo do coração uma atitude de defesa da vida, de compreensão e partilha com o irmão sofredor. Os que estão dispostos a destruir, mentir, perseguir e até matar são justamente os que têm construído os valores de suas vidas em cima da opressão e da exploração do povo. O fruto da vinha, uva que deveria ser fonte de alegria e vida, se torna assim fonte de destruição e morte.
Jesus também veio para a colheita... mas foi jogado fora!
Compreende-se melhor agora porque os emissários do dono (os profetas ao longo da história de Israel) foram maltratados, e até o próprio filho foi "jogado fora da vinha" e matado. Assim também Jesus, quando veio para reclamar os frutos da justiça e proclamar o ano de graça do Senhor (Lucas 4,16-21), foi "jogado fora dos muros de Jerusalém, no monte Calvário" e crucificado (Hebreus 13,12). Na lógica da religião do templo, assim como estava organizada, ele não podia vir para desestruturar um sistema tão bem montado, sistema que prendia a consciência das pessoas e garantia assim o lucro dos grandes e dos que manipulavam até a religião e o nome de Deus.
É por causa da dureza do coração destas pessoas que a vinha lhes foi tirada e dada a quem fosse entregando a produção. Então a vinha foi colocada sob o cuidado de outros administradores: os pagãos, que tiveram a atitude de acolher o anúncio do Reino, diferentemente das autoridades do povo. E o texto acrescenta que isso se realizou numa lógica que já estava nas escrituras: a pedra jogada fora pelos construtores tornou-se pedra angular do edifício (Salmo 118,22-23). Podemos constatar aqui a lógica diferente, a da morte e ressurreição de Jesus, sobre a qual está fundado o novo povo de Deus (Atos 2,33; 1 Pedro 2,7).
Fazer parte da vinha de Deus não é privilégio
Abrindo agora o sentido desta parábola para nós, podemos reparar que Deus esperava a justiça de Israel, mas precisou colocar outros administradores para poder colher estes frutos. Os frutos da justiça consistem antes de tudo em "escutar e por em prática" tudo o que Jesus ensinou (Mateus 7,21-27; 17,5) e isso produz amor sem fingimento, união fraterna, respeito e valorização da dignidade humana, partilha...
Um segundo aspecto importante: não há mal que não venha por bem. São Paulo, na carta aos Romanos (Romanos 11,11), nos diz que é justamente graças à dureza de coração destas pessoas que a Boa Nova foi aberta e anunciada aos pagãos. Deus, portanto, não rejeitou "os judeus" - pensamento que ao longo da história provocou tanta discriminação, sofrimento e perseguição, e até milhões de mortes - mas rejeita os líderes, os chefes, de ontem e de hoje, que fazem do nome de Deus uma oportunidade para dominar e se enriquecer à custa da boa fé do povo. É claro que todos têm a própria parte de responsabilidade, mas aqui estamos falando de uma estrutura social e religiosa de dominação.
Dito isto, não podemos ler esta parábola com autossuficiência porque a mesma coisa pode acontecer com a gente.
Luís Sartorel é  padre católico, membro do CEBI-CE e integrante do Conselho Nacional  do CEBI. É co-autor  de Esperança - Bandeira pela construção da paz. A partir dos textos de Gn 1-11 e através de seis encontros, o livro propõe a esperança de reconstruir o mundo como um jardim de coisas boas, terra e casa livre, relações sem medo.