Viagem de quatro dias marcada por apelos à união entre católicos e ao respeito pela liberdade religiosa na Europa pós-Muro de Berlim.
O Papa despediu-se da Alemanha, após uma viagem de quatro dias, a primeira com estatuto de visita de Estado, marcada por vários apelos à união entre católicos e ao respeito pela dimensão pública da religião.
"Recordo com prazer as celebrações litúrgicas comuns, a alegria de ouvir juntos a Palavra de Deus e de rezar unidos - e isto sobretudo nas partes do país onde, durante decénios, se tentou remover a religião da vida das pessoas. Isto enche-me de confiança quanto ao futuro do cristianismo na Alemanha", disse o Papa no seu discurso final, proferido no aeroporto de Lahr, 50 quilómetros a norte de Friburgo, no sudoeste alemão.
Diante do presidente germânico, Christian Wulff, Bento XVI passou em revista a terceira viagem à Alemanha, 21ª ao estrangeiro (16ª na Europa), que se iniciou na quinta-feira e contou com passagens por Berlim, Erfurt, Etzelsbach e Friburgo, tendo como lema 'Onde há Deus, há futuro'.
Uma visita que incluiu o primeiro discurso alguma vez proferida por um Papa no parlamento federal alemão, o Bundestag, no qual apelou à redescoberta do património cristão da Europa para defender o futuro do "Estado de Direito" no Velho Continente.
Várias intervenções de Bento XVI visaram a tendência de remeter a religião para o espaço privado ou mesmo de a "marginalizar", preocupação que partilhou com representantes muçulmanos e, antes, com líderes judaicos, junto dos quais lembrou as "horríveis imagens que chegaram dos campos de concentração" nazi e o Holocausto.
Após a passagem pela capital germânica, o Papa entrou no território da antiga República Democrática Alemã, na qual homenageou a resistência da fé face à ditadura nazi e ao regime comunista, que comparou a uma "chuva ácida", sublinhando o papel dos católicos na queda do Muro de Berlim, em 1989.
A região o encontro com membros da comunidade protestante, num antigo convento Agostinho em que viveu Martinho Lutero, um dos «pais» da reforma do século XVI.
O Papa reafirmou distâncias quando se mostrou mais próximo das Igrejas da Ortodoxia e disse aos luteranos que a vivência da fé não pode admitir qualquer "adulteração" para poder fazer face a um "mundo secularizado".
Nos discursos dirigidos aos católicos na Alemanha - que proporcionaram ao Papa vários banhos de multidão -, Bento XVI criticou os conflitos internos que afastam os católicos da sua ligação ao Vaticano e aos seus bispos, bem como a excessiva institucionalização das comunidades, defendendo a libertação de qualquer "fardo material e político" na Igreja para superar uma "crise de fé".
Os "tristes escândalos" de abusos sexuais de menores por membros do clero e em instituições Ecclesiais também mereceram a atenção do Papa, que recebeu um grupo de vítimas, após ter admitido "compreender" quem deixa a Igreja por se sentir "escandalizado por estes crimes, que foram revelados nos últimos tempos".
Um tempo difícil para o qual Bento XVI pediu o apoio dos fiéis, declarando que "permanecer em Cristo" significa "permanecer na Igreja".
"Agradeço a todos por estes dias estupendos, por tantos encontros pessoais e pelos inumeráveis sinais de atenção e de estima que me manifestaram", disse o Papa, antes de regressar ao Vaticano, onde chegou esta noite após mais de 2750 quilómetros percorridos em 84 horas e meia.
OC.
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